Finalmente, depois de longas e tenebrosas tentativas mal sucedidas, consegui ver o filme Tropa de Elite 2 e sai do cinema com uma forte sensação que poderia ter ficado sem vê-lo.
Sinto-me na contramão da opinião. Todas as pessoas que assistiram o filme comentaram que era melhor que o Tropa de Elite 1, que o filme era sensacional, imperdível, etc e tal. Será que as pessoas entenderam o Tropa de Elite 1? Será que eu sou anormal? Será que eu não entendi o Tropa de Elite 2? Talvez. Mas, por enquanto, quanto mais penso no filme, menos gosto dele e cada vez o considero pior.
Muitas pessoas pontuam que o filme aborda muito bem a questão da formação das milícias. Concordo com esse ponto, até a página 60. O filme deixou de abordar questões interessantes sobre a atuação das milícias nas favelas, como o fato de muitos moradores, a priori, apoiarem os milicianos. Esse fato é interessante, porque mostra a imensa fragilidade da atuação do estado com as populações menos favorecidas. Além disso, a milícia não foi o fio condutor desse filme e sim o Nascimento e isso o enfraqueceu!
O filme também comete um outro pecado, deixa subentendido, ou melhor, deixa bem claro na narrativa do Wagner Moura, que o deputado Fraga (que representa a figura do deputado federal Marcelo Freixo), era mais um que queria se dar bem na política com o seu papel de “o defensor dos direitos humanos”. Achei isso uma falta de respeito com o trabalho do Freixo e confesso que não entendi como ele deixou isso ir para as telas dessa forma, tendo em vista que ele foi um dos colaboradores do roteiro desse filme.
Um outro comentário que está sendo muito comum é que este filme superou o primeiro, porque o roteiro é mais abrangente. E desde quando isso é pré requisito de qualidade para um filme? Justamente por esse roteiro ser mais abrangente é que o torna muito mais fraco! O roteiro quis abraçar o mundo com as pernas e faltou perna para completar esse abraço. E eu confesso que sai carente da sessão! J Ele quis abordar o problema penitenciário, a formação das milícias, o envolvimento de lideranças políticas locais com as milícias que acabam formando a polícia que merecem, o envolvimento da corrupção do planalto central neste contexto e como a cereja do sundae, ainda quis abordar as crises existenciais e morais do Capitão, agora Coronel Nascimento. Tudo isso regado por um enredo muito menos audacioso e por isso, bem menos interessante.
Foi um filme muito limpo, esteticamente mais bonito, mas que não gera o incomodo que gerou o primeiro. Afinal a culpa de tudo são dos políticos e tudo será resolvido no final com a Justiça, como se essa fosse limpa e efetivamente justa neste nosso Brasil varonil.
Li uma crítica muito interessante na Carta Capital do Orlando Margarido que vale a pena conferir (http://www.cartacapital.com.br/cultura/um-heroi-classe-media). Fiquei muito aliviada ao lê-lo, porque não me senti tão só neste reinado de louvores ao Tropa de Elite 2. O nome do seu artigo é “Um herói classe média”. Acertou em cheio! E por isso entendo melhor a aceitação quase unânime desse filme.
O Tropa de Elite 1 era muito pontual e preciso em seu objetivo. Queria trazer à tona a discussão de que as classes médias e altas têm co-participação no desenvolvimento do tráfico e da violência em nossa cidade e que essas mesmas classes sociais que financiam o tráfico, “criam” e apóiam o BOPE, ou seja, uma máquina de matar os “inimigos” que elas mesmas ajudaram a formar e crescer. Saímos do Tropa de Elite 1 com uma certa angústia: “Que sociedade é essa que vivemos?” “Que legado é esse que deixaremos para os nossos filhos?”
O Tropa de Elite 2 não trás essa angústia, apresenta uma fragilidade dramática muito grande, pontua apenas fatos já conhecidos da nossa cidade, de maneira didática, sem acrescentar muita coisa, porque não trás análises é apenas um filme de opinião e nada mais. Não tem o brilhantismo do Tropa de Elite I
Finalizo o meu humilde texto, dizendo que prefiro muito mais o Capitão Nascimento fascista, visceral e autêntico do Tropa de Elite 1, que era um tapa na cara da sociedade, do que esse Coronel Nascimento fofo, que dá vontade de levar pra casa e dar colinho, mas que é muito vazio!
A atuação do Wagner Moura foi fenomenal, mas o perfil desse novo Nascimento e o roteiro do Tropa de Elite II não dão para aturar. Sendo assim, Sr. Sub-Secretário de Inteligência Nascimento: PEDE PRA SAIR E NÃO VOLTA!