Três meninas. Três histórias diferentes que se encontram. Três linhas distintas de pensamento, que se unem formando um maravilhoso mosaico de histórias, ideias e experiências. Encontram-se nas afinidades e completam-se nas diferenças, enlaçando-se nas alegrias e tropeços da vida. Escrevem aqui para celebrar, compartilhar e aprender. Para refletir sobre as experiências do passado, as inquietudes do presente e as incertezas do futuro. Nessa sucessão de encontros e desencontros, buscam entender melhor o mundo. Tudo isso regado por um pouco de geografia, política, arte e muito ziriguidum!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Como Paulo Freire ajudou a mudar a vida das mulheres do Vietnã


As mulheres dessa foto são mulheres da etnia Thai e vivem na comunidade de Thanh Nua nas proximidades de Dien Bien Phu, no noroeste do Vietnã. Elas são mulheres agricultoras que visitavam uma vila vizinha, a convite de sua professora, para aprender técnicas de manejo e produção de fertilizantes orgânicos.

Eu também estava lá para conhecer esse e outros projetos. Estive no Vietnã para visitar projetos em três comunidades na região de fronteira com o Laos. As comunidades rurais de Na Tau, Thanh Nua e Thanh Xuong desenvolvem experiências de recuperação de uma variedade de arroz nativo, uso de fertilizantes orgânicos na agricultura e integração entre criação animal e vegetal.

As experiências nas comunidades tiveram ótimos resultados, aumentaram a produtividade agrícola em até 3 vezes e garantiram segurança alimentar durante o ano todo. Assim como essas experiências de Dien Bien Phu, existem outras pelo país. Desde 1986 quando o quadro era de fome extrema, o governo do Vietnã vêm implementando, com muito sucesso, programas e projetos para incentivar a agricultura familiar e combater a fome.

Não é a toa que o Vietnã hoje se destaca como um dos países que está atingindo as metas estabelecidas pelo primeiro Objetivo de Desenvolvimento do Milênio de reduzir pela metade a pobreza e a fome até 2015. Durante a Cúpula Mundial dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas, que começou neste dia 20 em Nova Iorque e que reúne mais de 140 líderes e chefes de Estado, o Vietnã (assim como Brasil) está sendo destacado como um caso de sucesso.

Mas, embora o sucesso das experiências locais de agricultura e segurança alimentar tenham me impressionado, não foi isso que mais me chamou a atenção. O que saltou aos olhos foi o processo de implementação e disseminação desses projetos e como eles mudaram a vida e a posição das mulheres na região e, dentre elas, as mulheres dessa foto.


Esqueça os modelos de extensão rural tradicionais ou o formato de escola e educação que vemos normalmente. A metodologia do trabalho que foi implementado lá na região de Dien Bien Phu, é bem diferente e teve inspiração na filosofia do educador brasileiro Paulo Freire. Essa metodologia é chamada de Reflect e junta a alfabetização de adultos com disseminação de conhecimento técnico e reflexão crítica sobre as relações sociais em que o grupo está inserido.

Esse grupo de mulheres Thai da foto é parte de um grupo de Reflect há três anos. Através do grupo, elas se alfabetizaram, aprenderam diversas técnicas agrícolas, discutiram sobre violência doméstica, saúde da mulher e HIV, e também formaram um grupo de canto e dança.

Tudo isso mudou muita coisa na vida delas. Mas, acima de tudo, mudou como elas se colocam diante do mundo.


Uma delas me conta que, há alguns anos, antes de fazer parte do Reflect, ela quase não saía do espaço de sua casa. E certamente não iria estar em outra vila para aprender algo novo e muito menos estaria falando assim com “estranhos” como eu, especialmente alguém de outro país.

Eu pergunto a ela por que? O que mudou? E ela me responde que, antes, era muito tímida e não tinha coragem nenhuma. Hoje ela se sente mais forte, não tem medo de sair e ir a outros lugares, falar com outras pessoas. Ela se sente mais forte porque aprendeu a ler e escrever, e assim pode estudar com seus filhos. Se sente mais forte porque agora entende de agricultura e de comércio e pode dar sua opinião sobre o que plantam, como plantam e como vendem. Ela hoje se sente mais forte porque pode se colocar e decidir junto com o marido sobre os rumos da sua casa e da sua familia.

Poder estudar com os filhos, ir até uma cidade vizinha, aprender coisas novas, se expressar, partilhar a responsabilidade doméstica com o companheiro podem parecer para nós coisas óbvias, dadas, tidas como certas. Mas para muitas mulheres no mundo, é algo distante e até inimaginável.

A experiência mais forte dessa visita ao Vietnã foi, sem dúvida, ver e ouvir o depoimento dessas mulheres - que não são números em uma pesquisa, mas gente de carne e osso, com rosto, nome e sentimentos - sobre como elas se transformaram e transformaram a vida ao seu redor.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Raízes: uma vez geógrafa...sempre geógrafa!

Apesar do querido amigo que nos homenageou com o poema na barra lateral desse blog estar certo ao dizer que eu abandonei a geografia e fui ser feliz, uma vez geógrafa... pra sempre geógrafa!
Caminhando de férias pelas ruas de Lisboa, não resisti e fui visitar a Sociedade Geográfica de Lisboa. Afinal, impossível esquecer as aulas de história do pensamento geográfico e o papel das sociedades geográficas.
A instituição ainda organiza eventos, cursos, palestras etc e dizem que tem um excelente museu com peças de antigas colônias portuguesas.
Infelizmente, estava fechado. Agosto é o mês das férias de verão e muitos lugares fecham e só retomam as atividades em Setembro.
De qualquer forma, valeu a lembrança. E a foto na porta da Sociedade Geográfica está aí para os geógrafos verem que eu não nego as origens!

domingo, 12 de setembro de 2010

MAIS UM 11 DE SETEMBRO


Mais um 11 de setembro passou e é incrível como essa data não morre!
É incrível como todo 11 de setembro somos “bombardeados” por nossa incrível mídia domesticada por relatos superficiais sobre as inúmeras vítimas do atentado. Eu, particularmente, sempre lamento perda de vidas, mas tenho que concordar neste caso com a breve e pontual reflexão do Veríssimo nos passados 11 de setembro de 2001: “Pena que tinha gente...”
Hoje acordei e vi um pequeno documentário de 11 minutos postado por um amigo no facebook, que fez-me recordar de uma coincidência histórica muito pertinente para o famigerado dia 11. Foi também num dia 11 de setembro, porém de 1973, que Salvador Allende, foi deposto e assassinado. O socialista que teve a audácia, num período de ditaduras vorazes na América Latina, de achar que poderia implantar uma sociedade mais justa e igualitária na América do Sul.
Foi num mesmo 11 de setembro, que um presidente, legitimamente eleito no Chile, foi morto por uma oposição de direita, bancada e apoiada pelo imperialismo norte-americano, que ontem, mais uma vez, chorava pelos seus mortos...
Mesmo imperialismo que nos dias atuais bancou e estimulou uma minoria branca, que não aceitava, e ainda não aceita, a eleição legítima de um indígena, Evo Morales, que não engole o Hugo Chavez e que não fez nada contra a deposição do Zelaya em Honduras.
Estranho como as coisas se repetem...
Estranho como os erros permanecem...
Estranho como é difícil sonhar com algo melhor...
Estranho como que por mais que caminhemos a luz no fim do túnel insiste em não aparecer...
Estranho...
Fico feliz de pelo menos ainda ter a sensibilidade de ter o estranhamento e não cair no sentimento de “naturalidade” comum a muitos...
Presto aqui uma pequena homenagem ao povo chileno e todos os demais povos dessa América Latina sofrida e perseguida.
Termino com a mesma mensagem final apresentada no documentário que vocês assistirão a seguir, que simplesmente ADOREI!
Santo Agostinho disse: "A esperança tem duas filhas lindas... A raiva e a coragem. A raiva do estado das coisas e a coragem para mudá-lo"
ASSISTAM O VÍDEO, VALE MUITO A PENA VER!!