Três meninas. Três histórias diferentes que se encontram. Três linhas distintas de pensamento, que se unem formando um maravilhoso mosaico de histórias, ideias e experiências. Encontram-se nas afinidades e completam-se nas diferenças, enlaçando-se nas alegrias e tropeços da vida. Escrevem aqui para celebrar, compartilhar e aprender. Para refletir sobre as experiências do passado, as inquietudes do presente e as incertezas do futuro. Nessa sucessão de encontros e desencontros, buscam entender melhor o mundo. Tudo isso regado por um pouco de geografia, política, arte e muito ziriguidum!

terça-feira, 26 de julho de 2011

FIM DOS PARAÍSOS FISCAIS!



Hoje, dia 26 de julho, o Brasil lança oficialmente a campanha “Fim aos Paraísos Fiscais”. Mais de 50 organizações em todo se unem para exigir que os líderes do G20 adotem medidas para requerer que empresas publiquem o lucro verdadeiro que obtêm, principalmente em países em desenvolvimento, e que paguem os impostos devidos, deixando de usar os artifícios que ajudem na sonegação. Parte desses artifícios são justamente o envio do lucro não declarado para paraísos fiscais. Depois que esse dinheiro sai dos paraísos a legalidade não é mais questionada.

Pesquisa do Global Financial Integrity, afirma que “existe uma relação forte entre a sonegação fiscal no mundo e os depósitos nos offshore e paraísos fiscais”. Nestes últimos, não há nenhuma transparência e troca de informação

O fluxo financeiro entre o Brasil e os paraísos fiscais é grande. Segundo dados do Banco Central do Brasil, o investimento brasileiro direto no exterior em 2007, 2008 e 2009 foi, respectivamente, US$190,2 bilhões, US$ 204,0 bilhões e US$ 214,0 bilhões.

Os paraísos fiscais estão entre os destinos preferenciais dos investimentos brasileiros diretos na forma de participação em capital. Só em 2009, foram enviados US$ 18,3 bilhões para as Ilhas Cayman, US$ 13,3 bilhões para as Ilhas Virgens Britânicas, US$ 10,2 bilhões para as Bahamas e US$ 4,3 bilhões para Luxemburgo.

Com relação aos empréstimos intercompanhias que partiram do Brasil, as Ilhas Cayman aparecem no topo entre os destinos. De 2007 a 2009, as Ilhas Cayman receberam U$$ 90,5 bilhões ou 88% do total desse tipo de investimento (28 vezes o que seguiu para os EUA no mesmo período, U$$ 3,2 bilhões).

Em uma pesquisa realizada em 2009, o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário detectou fortes indícios de sonegação fiscal em aproximadamente de 26,84% das empresas pesquisadas. O estudo apontou que tributos sonegados pelas empresas somavam R$ 200 bilhões por ano e, somados os tributos sonegados pelas pessoas físicas, a sonegação fiscal no Brasil atingia 9% do Produto Interno Bruto.

A magnitude dessa sonegação é dada quando se compara o volume da fraude com as despesas públicas com educação no país. Segundo o Ministério da Educação, o gasto público com educação no Brasil corresponde somente a 5% do PIB. Os R$ 200 bilhões de impostos sonegados são também 14 vezes maiores do que o valor do orçamento para o programa Bolsa Família em 2011.

Segundo dados do IBGE, no Brasil existem 16,2 milhões de pessoas em situação de pobreza extrema, e dados do PNAD informam que 9,7% das pessoas com mais de 15 anos são analfabetas. Esses R$ 200 bilhões sonegados poderiam financiar muitas políticas públicas e programas de erradicação da miséria, geração de renda, educação. Não dá para aceitar que grandes empresas, além de ganharem lucros absurdos, soneguem empostos que deveriam estar financiado as políticas do Estado.

Eu apóio a campanha pelo fim dos paraísos fiscais!

A campanha tem o objetivo de recolher o máximo de assinaturas da sociedade para que sejam entregues na reunião do G20 na França, que ocorrerá em novembro deste ano.  É a vez do Brasil participar e exigir que o G20 coloque o “sigilo dos paraísos fiscais” na agenda da reunião de novembro. Entre no site da campanha aqui e faça a sua parte!.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

COPA PARA QUEM?

Carta Aberta à Sociedade, do Comitê Popular da Copa/SP, sobre o processo de organização da Copa do Mundo, a ser realizada no Brasil em 2014.

O futebol deixou de ser uma saudável prática esportiva. No lugar do espírito esportivo, foram impostos à organização desse esporte uma série de interesses econômicos e políticos. Futebol virou mercadoria e sua finalidade o lucro. A entidade máxima do futebol mundial, a FIFA, tem como seu objetivo verdadeiro aumentar seu já milionário patrimônio.
Uma série de escândalos tornou pública a forma corrupta como essa entidade age. É nesse contexto que o Brasil vai sediar a Copa de 2014. Com superpoderes, a FIFA impôs uma série de requisitos para ser cumprido. Essas exigências fazem parte da rentabilidade que a entidade e suas empresas parceiras terão com a realização do evento. Na prática, não deixarão nenhum legado social positivo. Pelo contrário, fatos históricos (África do Sul, entre outros) apontam para outra direção.
Nós, cidadãos e cidadãs, que trabalhamos e pagamos impostos, perguntamos: é justo uma entidade corrupta ditar o quê o país deve fazer? Deve o Estado brasileiro se submeter aos seus ditames? Vale gastar tantos recursos públicos em um evento que dura apenas um mês?
Fica cada vez mais evidente que quem ganhará com a realização da Copa é o setor imobiliário; as incorporadoras e as empreiteiras lucrarão com as obras e serviços a serem realizados e com a especulação imobiliária. Através de seu poder econômico e político, esses setores pressionam o Estado para usufruir enormes somas de dinheiro público em benefício próprio.
Observamos a repetição de histórias trágicas: superfaturamentos; falta de transparência; agressões aos direitos humanos; repressão aos pobres; despejos forçados e desrespeito com a população em geral.
A Copa acelera dois processos já em curso: a repressão aos pobres e aos movimentos populares e a supervalorização fundiária. Isso em todas as cidades-sede da Copa. A Copa não pode servir de pretexto para o aumento de políticas repressivas e contribuir para o agravamento de problemas como o da moradia. Temos problemas sérios como o assassinato de jovens da periferia, principalmente de jovens negros e negras, a violência generalizada contra as mulheres, os/as trabalhadores/as formais e informais e os movimentos sociais. Cabe lembrar que, durante a Copa realizada na África do Sul, houve um grande aumento do tráfico de mulheres, crianças e adolescentes para a exploração sexual.
A Copa servirá para potencializar ainda mais estas formas de violência? Não podemos deixar que isso ocorra. Desde já denunciamos o turismo sexual em nosso país por causa da Copa.
Não concordamos que, sob o pretexto da realização da Copa, uma série de favorecimentos ocorra por parte do Estado brasileiro, como as licitações obscuras e a privatização dos aeroportos.
Também não queremos que a Copa seja a reprodução do Pan 2007, no Rio de Janeiro. O dinheiro utilizado para a realização daquele evento foi tirado da saúde, da educação, da moradia. Resultado: a falta de recursos provocou o caos nos hospitais, a epidemia de dengue e o desmoronamento de encostas.
No caso da cidade de São Paulo, é mentiroso o argumento de que o Estádio em Itaquera trará benefícios para toda a zona leste. O desenvolvimento da zona leste é obrigação do Estado, uma dívida histórica que este tem em prover saúde, educação, moradia, políticas para a infância e a juventude, desenvolvimento urbano e transporte de qualidade. Essas responsabilidades não devem estar atreladas à Copa, dado os interesses privados que esse evento comporta.
O Estádio é importante, mas é mais do que perverso se apropriar da paixão da torcida para justificar uma obra que só trará lucros a alguns setores; que o empenho para a construção do Estádio seja maior que o empenho para a construção da Universidade Federal da Zona Leste; que seja motivo para construir mais avenidas na região, com o transporte público, inclusive o metrô, já completamente saturados.
Ademais, repudiamos a valorização imobiliária da região e a imanente remoção de comunidades inteiras. A população local deve ter seus direitos respeitados.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Basta!

Chegou a hora de dar um BASTA! Não, esse não é mais um post sobre lutas políticas, desigualdades sociais e temas afins. Esse basta! que estou dando é para o pneuzinho na cintura, os quilinhos a mais, a barriguinha, as gordurinhas indesejáveis. Cansei de ser gordinha, e resolvi dar um basta! 

Eu não fumo, não bebo, não cheiro... eu como. Meu vício é a comida. E como se livrar de vício e compulsão é difícil, eu resolvi ir a um nutricionista para me ajudar no processo de reeducação alimentar. 

Os números da avaliação foram meio assustadores:

- peso: 84,4kg 
- cintura: 104 cm (é, mais de um metro...) 
- percentual de gordura: 39% 
- IMC: 31 (o que já é considerado obesidade)

Depois da avaliação, chegamos a uma meta, um prazo e plano. A meta: perder 12 kg. O prazo: 15 semanas. O plano: exercícios aeróbicos 6 vezes por semana e um cardápio totalmente novo, que estou com preguiça de detalhar aqui mas que inclui cortar totalmente o glúten e o açúcar e combinações específicas entre os alimentos. 

Estou aqui imaginando que no início vai ser muito difícil, até reacostumar meu organismo a comer menos, e sem besteiras e belisquetes. Mas já estou pensando que um dos desafios é o fim de semana e os programas com família e amigos. Durante a semana, na rotina de estudos e trabalho vai ser mais fácil manter o cardápio. Mas o que fazer quando os amigos marcam um encontro na pizzaria, uma feijoada no sábado, ou um barzinho para bater papo enquanto beliscamos alguma coisa? 

Se o lugar tiver opções que se encaixem no cardápio é mais fácil. Mas e se não for o caso, o que fazer? Comer antes de sair de casa e lá tomar água mineral? Ou simplesmente abolir a vida social nesse período de restrição? Não sei como vai ser... Esse vai ser o primeiro fim de semana na nova rotina. Conto para vocês depois.

O importante é que o desafio está lançado. É uma questão de saúde. Do jeito que está, não dá mais. Depois da próxima consulta, faço um balanço das medidas e dos avanços.

Para quem quiser acompanhar o progresso dos quilinhos a menos, eu adicionei um "medindo o basta!" ao final da página.

Torçam por mim!

   

terça-feira, 19 de julho de 2011

Nicaragua, a flor mais linda do meu querer



Hoje a Revolução Sandinista que libertou a Nicarágua da ditadura da família Somoza completa 32 anos. Depois de anos de luta armada, finalmente em 19 de julho de 1979 as colunas e brigadas sandinistas entram na capital Manágua, consumando a vitória da revolução. O ditador Anastasio Somoza Debayle buscou exílio no Paraguay, mas mesmo fora do país foi assassinado (ou "justiciado", como dizem na Nicaragua) em 1980.  

Os Estados Unidos organizaram e apoiaram um forte oposição ao novo governo revolucionário, levando o país a mergulhar em sangrenta guerra civil. Os grupos armados apoiados pelos EUA eram chamados de "contra", por serem contra-revolucionários.

O vídeo postado acima é de um grande concerto pela paz na América Central que aconteceu em Managua em 1983. A música se chama Nicaragua, Nicaraguita, e é de Carlos Mejía Godoy. Ele e seu irmão Luís Enrique foram, e são até hoje, grandes cantores da revolução Sandinista. 

Ay Nicaragua, Nicaraguita,
la flor mas linda de mi querer,
abonada con la bendita,
Nicaraguita, sangre de Diriangén.
Ay Nicaragua sos mas dulcita,
que la mielita de Tamagas,
pero ahora que ya sos libre,
Nicaraguita, yo te quiero mucho mas.
pero ahora que ya sos libre,
Nicaraguita, yo te quiero mucho mas.
Ay Nicaragua, Nicaraguita,
la flor mas linda de mi querer,
abonada con la bendita,
Nicaraguita, sangre de Diriangén

A Nicarágua é um país lindo, mas sofrido. Lá aprendi muito sobre o ser humano e suas lutas, sobre ideais vivos e perdidos, sobre esperança e desilusão. Hoje a Nicarágua ocupa um lugarzinho especial na minha memória e nos meus afetos. Trouxe comigo além das aprendizagens, dos artesanatos, do rum, dos vestidos floridos, um pouquinho deste jeito Nica de viver entre o fuzil e o cantar.
 
Não poderia deixar de lembrar aqui no nosso espaço o aniversário da Revolução Sandinista, e compartilhar essa linda homenagem dos Mejía Godoy em forma de múscia a sua amada Nicaraguita.


sábado, 9 de julho de 2011

ENTRE O FUZIL E O CANTAR


“Eu sou de um povo nascido entre o fuzil e o cantar, e que de tanto ter sofrido tem muito que ensinar”.
Esses versos foram escritos pelo cantor e compositor Nicaraguense Luís Enrique Mejía Godoy. Ele e seu irmão Carlos são compositores adorados no país. Suas canções falam muito da Revolução Sandinista, da guerra, da opressão e, principalmente, da libertação.
Uma reflexão que tenho feito durante esta minha estadia aqui na Nicarágua é: o que nos move no mundo? A que afinal dedicamos nossas vidas?
Durante o trabalho aqui, participei de um exercício muito interessante junto com outros participantes da Guatemala e da Nicarágua. Era uma linha do tempo em que cada pessoa deveria escrever um acontecimento marcante em sua vida pessoal. Algumas pessoas de fato colocaram acontecimentos de suas vidas pessoais, como o nascimento do filho ou mudança de cidade. Mas o que me chamou a atenção foi que a maior parte das pessoas citou acontecimentos relacionados com a seu trabalho, sua luta política, ou a luta de sua comunidade e seu país.
Mencionaram a própria revolução sandinista, o trabalho nas escolas de reconciliação, o apoio ao primeiro retorno dos refugiados, o primeiro trabalho na área rural com camponeses, o trabalho com grupos feministas, a participação nos conselhos comunitários de desenvolvimento, e outras coisas desse tipo. Fiquei pensando por que elas teriam mencionado isso, e se não teriam entendido o que era exatamente o exercício. Mas não foi o caso. Todos entenderam o exercício. O fato é que tudo isso é, no fundo, muito pessoal para algumas pessoas. A luta política, os direitos de suas comunidades indígenas, o retorno dos refugiados, a emancipação das mulheres, a fome dos agricultores, tudo isso é muito pessoal.
Lutar por direitos, por liberdade, por uma vida melhor não apenas para sua família, mas para o coletivo a sua volta, não é um trabalho comum com jornada de 8 horas por dia. É trabalho em tempo integral, é uma opção de vida e, portanto, muito pessoal. É a doação do tempo que não se passa com a sua família, é o lazer que não se tem, é o risco que se corre, é a dedicação integral pela crença em um mundo melhor, o mundo que querem construir.
Ver como, em algumas vidas, a trajetória pessoal está totalmente marcada pelas lutas sociais e políticas me fez pensar muito sobre a que, afinal, dedicamos nossas vidas e o que é realmente importante para nós. O que nos faz levantar todos os dias de manhã, em que colocamos nossas energias? O mundo em que vivemos ainda é marcado pela desigualdade, a violência e a opressão. É um mundo onde 1 bilhão de pessoas passam fome. Acho que essa realidade exige que nos dediquemos à construção de um mundo melhor, mais justo e igualitário.
Será que estamos todos fazendo a nossa parte? A que afinal realmente dedicamos nossas vidas?
Texto: Renata Neder - Publicado no site da Revista Época