Três meninas. Três histórias diferentes que se encontram. Três linhas distintas de pensamento, que se unem formando um maravilhoso mosaico de histórias, ideias e experiências. Encontram-se nas afinidades e completam-se nas diferenças, enlaçando-se nas alegrias e tropeços da vida. Escrevem aqui para celebrar, compartilhar e aprender. Para refletir sobre as experiências do passado, as inquietudes do presente e as incertezas do futuro. Nessa sucessão de encontros e desencontros, buscam entender melhor o mundo. Tudo isso regado por um pouco de geografia, política, arte e muito ziriguidum!
sábado, 19 de maio de 2012
segunda-feira, 14 de maio de 2012
PARA ALÉM DA FESTA...
Há algumas semanas atrás recebi um convite de amigos para visitar o QUILOMBO SÃO JOSÉ DA SERRA, situado no município de Valença no interior do estado do Rio de Janeiro. O quilombo e parte da sua história já eram do meu conhecimento, entretanto, nunca tive a oportunidade de visitar o famoso território quilombola.
Quilombo, segundo o dicionário banto do Nei Lopes, é uma palavra derivada do termo quibundo "kilombo", que significa, dentre outras possibilidades, acampamento ou povoado. No Brasil a palavra "quilombo" ganhou o sentido de comunidades autônomas de escravos fugitivos.
Atualmente existem centenas dessas áreas remanescentes de quilombolas que lutam para manter suas histórias vivas e os direitos às terras dos seus ancestrais. No estado do Rio de Janeiro, temos 13 Quilombos e neste final de semana fui visitar o mais antigo quilombo do nosso estado, que tem mais de 150 anos de existência.
Atravessar os portões e entrar no Quilombo São José é atravessar um portal mágico que te leva a um passado histórico vivo! É se deparar com cerca de 200 quilombolas que vivem neste local em suas casas de pau-a-pique com telhados de palha e fogão à lenha, é saborear a feijoada da Mãe Tereza e depois receber da mesma mão que te alimenta a benção da fogueira que te emociona até o último fio de cabelo. Ultrapassar as porteiras do Quilombo São José é conhecer o Tio Manuel, patriarca do Quilombo, e se encantar com a sua simpatia e alegria, é ter lágrimas nos olhos ao ver as crianças dançando e cantando ao som do caxambu, é sentir o seu corpo vibrar ao som dos inúmeros tambores que não param de ressoar pelos vales da serra da Beleza, é ficar hipnotizado com os passos ritmados dos pés calejados que marcam o jongo e levantam a poeira do terreiro.
Visitar o Quilombo São José da Serra é uma experiência ímpar!
Não apenas pelas emoções fornecidas pelo lugar e seus adoráveis moradores, mas principalmente por constatarmos que os quilombos desse país, depois de tantos anos de sofrimento e luta, permanecem na batalha! Uma guerra sem tréguas para adquirirem o direito a propriedade de suas terras, consagrado pela Constituição Federal desde 1988, porém por muitos não conquistado, como é o caso dos quilombolas de São José da Serra, que há mais de dez anos lutam pelas terras que habitam e ainda não tiveram o processo de titulação finalizado.
Conhecer esse lugar é voltar para casa com um misto de alegria e revolta. Alegria, por perceber como a nossa cultura negra resiste bravamente pelos quilombos, guetos e esquinas desse Brasil, mantendo e divulgando as suas raízes, fortalecendo elos, quebrando esteriótipos, rompendo barreiras e ecoando as vozes daqueles que muitos insistem, ainda hoje, em silenciar. Revolta, por evidenciar, mais uma vez, a certeza que o nosso país permanece cometendo os mesmos erros do passado, que muitos não reconhecem o valor desse povo para a nossa HISTÓRIA e para nossa IDENTIDADE, que apesar de tantos "desenvolvimentos" ainda vivemos num Brasil absurdamente injusto, racista e hipócrita.
No momento, a comunidade espera do Juíz de Barra do Piraí, a aprovação de duas liminares, um que dá a ela a posse da área que ocupa, e outra que determina a saída do fazendeiro até que o processo seja concluído para que a comunidade possa viver em paz e com liberdade!
Vamos dar visibilidade a essa história de luta!!
Vamos vestir a camisa dos quilombolas desse país!!
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