do despojamento mais inteiro
da simplicidade mais erma
da palavra mais recém-nascida
do inteiro mais despojado
do ermo mais simples
do nascimento a mais da palavra
Fagulha
Abri curiosa
o céu.
Assim, afastando de leve as cortinas.
Eu queria entrar,
coração ante coração,
inteiriça
ou pelo menos mover-me um pouco,
com aquela parcimônia que caracterizava
as agitações me chamando.
Eu queria até mesmo
saber ver,
e num movimento redondo
como as ondas
que me circundavam, invisíveis,
abraçar com as retinas
cada pedacinho de matéria viva.
Eu queria
(só)
perceber o invislumbrável
no levíssimo que sobrevoava.
Eu queria
apanhar uma braçada
do infinito em luz que a mim se misturava.
Eu queria
captar o impercebido
nos momentos mínimos do espaço
nu e cheio.
Eu queria
ao menos manter descerradas as cortinas
na impossibilidade de tangê-las.
Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal.
Ana Cristina Cesar, ou simplesmente Ana C., nasceu no Rio de Janeiro em 2 de Junho de 1952. Hoje ela estaria fazendo 58 anos. Ana C. suicidou-se em 1983, mas sua poesia permanece viva. Fica aqui uma pequena homenagem para essa menina do Brasil.
2 comentários:
...
Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal.
Que lindo, Rê! Adorei!
Beijo
Eu adoro Ana C., Henry.
Também gosto desse verso em particular.
Vou postar mais poesia por aqui, quando der.
Beijo!
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