Três meninas. Três histórias diferentes que se encontram. Três linhas distintas de pensamento, que se unem formando um maravilhoso mosaico de histórias, ideias e experiências. Encontram-se nas afinidades e completam-se nas diferenças, enlaçando-se nas alegrias e tropeços da vida. Escrevem aqui para celebrar, compartilhar e aprender. Para refletir sobre as experiências do passado, as inquietudes do presente e as incertezas do futuro. Nessa sucessão de encontros e desencontros, buscam entender melhor o mundo. Tudo isso regado por um pouco de geografia, política, arte e muito ziriguidum!

segunda-feira, 14 de maio de 2012

PARA ALÉM DA FESTA...

Depois de um longo e turbulento período, volto a aventurar-me nesse querido espaço de reflexões, trazendo alguns relatos de emoções vividas em um histórico 13 de maio da minha vida.
Há algumas semanas atrás recebi um convite de amigos para visitar o QUILOMBO SÃO JOSÉ DA SERRA, situado no município de Valença no interior do estado do Rio de Janeiro. O quilombo e parte da sua história já eram do meu conhecimento, entretanto, nunca tive a oportunidade de visitar o famoso território quilombola.
Quilombo, segundo o dicionário banto do Nei Lopes, é uma palavra derivada do termo quibundo "kilombo", que significa, dentre outras possibilidades, acampamento ou povoado. No Brasil a palavra "quilombo" ganhou o sentido de comunidades autônomas de escravos fugitivos.
Atualmente existem centenas dessas áreas remanescentes de quilombolas que lutam para manter suas histórias vivas e os direitos às terras dos seus ancestrais. No estado do Rio de Janeiro, temos 13 Quilombos e neste final de semana fui visitar o mais antigo quilombo do nosso estado, que tem mais de 150 anos de existência.


Atravessar os portões e entrar no Quilombo São José é atravessar um portal mágico que te leva a um passado histórico vivo! É se deparar com cerca de 200 quilombolas que vivem neste local em suas casas de pau-a-pique com telhados de palha e fogão à lenha, é saborear a feijoada da Mãe Tereza e depois receber da mesma mão que te alimenta a benção da fogueira que te emociona até o último fio de cabelo. Ultrapassar as porteiras do Quilombo São José é conhecer o Tio Manuel, patriarca do Quilombo, e se encantar com a sua simpatia e alegria,  é ter lágrimas nos olhos ao ver as crianças dançando e cantando ao som do caxambu, é sentir o seu corpo vibrar ao som dos inúmeros tambores que não param de ressoar pelos vales da serra da Beleza, é ficar hipnotizado com os passos ritmados dos pés calejados que marcam o jongo e levantam a poeira do terreiro.


Visitar o Quilombo São José da Serra é uma experiência ímpar!
Não apenas pelas emoções fornecidas pelo lugar e seus adoráveis moradores, mas principalmente por constatarmos que os quilombos desse país, depois de tantos anos de sofrimento e luta, permanecem na batalha! Uma guerra sem tréguas para adquirirem o direito a propriedade de suas terras, consagrado pela Constituição Federal desde 1988, porém por muitos não conquistado, como é o caso dos quilombolas de São José da Serra, que há mais de dez anos lutam pelas terras que habitam e ainda não tiveram o processo de titulação finalizado.


Conhecer esse lugar é voltar para casa com um misto de alegria e revolta. Alegria, por perceber como a nossa cultura negra resiste bravamente pelos quilombos, guetos e esquinas desse Brasil, mantendo e divulgando as suas raízes, fortalecendo elos, quebrando esteriótipos, rompendo barreiras e ecoando as vozes daqueles que muitos insistem, ainda hoje, em silenciar. Revolta, por evidenciar, mais uma vez, a certeza que o nosso país permanece cometendo os mesmos erros do passado, que muitos não reconhecem o valor desse povo para a nossa HISTÓRIA e para nossa IDENTIDADE, que apesar de tantos "desenvolvimentos" ainda vivemos num Brasil absurdamente injusto, racista e hipócrita.
Não podemos deixar de apoiar a luta desse povo!
No momento, a comunidade espera do Juíz de Barra do Piraí, a aprovação de duas liminares, um que dá a ela a posse da área que ocupa, e outra que determina a saída do fazendeiro até que o processo seja concluído para que a comunidade possa viver em paz e com liberdade!
Vamos dar visibilidade a essa história de luta!!
Vamos vestir a camisa dos quilombolas desse país!!