Três meninas. Três histórias diferentes que se encontram. Três linhas distintas de pensamento, que se unem formando um maravilhoso mosaico de histórias, ideias e experiências. Encontram-se nas afinidades e completam-se nas diferenças, enlaçando-se nas alegrias e tropeços da vida. Escrevem aqui para celebrar, compartilhar e aprender. Para refletir sobre as experiências do passado, as inquietudes do presente e as incertezas do futuro. Nessa sucessão de encontros e desencontros, buscam entender melhor o mundo. Tudo isso regado por um pouco de geografia, política, arte e muito ziriguidum!

quarta-feira, 31 de março de 2010

E você, NADA?


Aproveitando a deixa das intervenções anteriores da Menina Paty, trago meu relato de uma experiência que, para mim, está sendo muito muito prezerosa: voltar a nadar. Digo que vou aproveitar a deixa da Paty, pois, de certa forma, nessa vida corrida a gente tem que apertar daqui, espremer dali para achar um pouquiiiinho de tempo, uns minutos por dia para cuidar de si, pensar em nós, no que nos agrada, nos faz feliz. Não que as coisas obrigatórias sejam sempre chatas e desagradáveis, não! Eu gosto bastante do que faço, inclusive. O problema é sempre o excesso! Se é demais enjoa ou acaba fazendo mal. Mas voltando ao assunto do voltar a nadar, eu retomei na semana passada essa atividade que sempre me deu imenso prazer. Eu, na minha infância, adolescência e início da fase adulta pratiquei esse esporte. Ao todo mais de 10 anos. Cheguei a competir pela escola, uma vez, em intercolegial (conquistei um retumbante quarto lugar entre cinco nadadoras! haha!), mas esse não era o meu foco, não era o meu norte. Eu simplesmente me sentia BEM fazendo aquilo. A água, o movimento do corpo, os pensamentos livres, a alegria que me dava... Um pedaço (um dos, sejamos justos) que eu adorava da minha vida tão mais simples do que a que eu levo hoje, com tantos afazeres e responsabilidades. Enfim, parei de nadar no início da faculdade. Falta de tempo (olha ele aí!), me decepcionei com uma experiência de tentar treinar em clube, acabei parando. Pratiquei outras atividades, mas era pura obrigação, simplesmente porque acho importante e saudável para o corpo, não era uma coisa que me deixava feliz. Vocês devem estar pensando: "Essa garota é louca!" Não gente! Juro que não! As vezes, apenas paro para pensar nas coisas pequenas, simples, que tornam a nossa vida, a nossa existência mais feliz. A felicidade nas pequeníssimas coisas. Fiquei tão orgulhosa de mim, pois ainda sei nadar, depois de dez anos parada, ainda tenho estilo (segundo a minha professora!), e tão preocupada, pois não consigo mais fazer um tiro de 25m sem respirar (ai como os já me 30 pesam!). Mas saí dessas três aulas que já tive, muito muito feliz! Não sei o motivo que me fez querer compartilhar isso com vocês. Talvez porque eu ache que (passei a achar isso recentemente) tudo que nos deixa feliz deve ser compartilhado. Tudo! A felicidade não é um estado permanente, ela é feita de instantes. E eu acredito que esses instantes compartilhados são absolutamente contagiantes! Seja no que for! É por isso que quero que vocês saibam dessa minha nova-velha aventura! Façam sempre o mesmo: Compartilhem a alegria de vocês, contagiem os outros! Nadem, dancem, ouçam uma música linda, caminhem, assistam a um bom filme, leiam um bom livro, escrevam uma poesia, tomem um sorvete gostoso num dia quente, um café quentinho num dia friozinho, namorem, tenham um gato, um cachorro, olhem para a lua, abracem, sorriam, sejam felizes!

E por falar no tempo...

APÓS ESCREVER O TEXTO SOBRE O "TEMPO", ENCONTREI ESSES VERSOS DO QUINTANA QUE MATERIALIZAM EM POESIA OS MEUS PENSAMENTOS...
APROVEITEM!!!

domingo, 28 de março de 2010

Peça a Nestlé que pare de destruir as florestas da Indonésia para produzir chocolate


A Nestlé compra óleo de dendê para seus chocolates da empresa Sinar Mas, que destrói a floresta da Indonésia para plantar dendezeiros e eucalipto para produzir papel. A sobrevivência de comunidades locais e dos orangotangos, nativos da floresta, está ameaçada. Participe! Divulguem o vídeo que a Nestlé censurou! Abaixo segue a mensagem enviada pelo Greenpeace: Prezado Paul Bulcke, Presidente da Nestlé O óleo de dendê que você compra para produzir o chocolate “Kit Kat” é resultado da destruição das florestas tropicais da Indonésia. Grandes empresas, como a Sinar Mas, destroem a vegetação primária, chamada floresta de turfa, para plantar dendezeiro, mais eucalipto para produzir papel. A destruição ameaça a sobrevivência dos orangotangos, nativos da floresta, e das comunidades locais, além de emitir gases de efeito estufa que contribuem para o aquecimento global. Você e as empresas com quem você comercializa óleo de dendê estão envolvidas na destruição da floresta de turfa. A Nestlé, maior empresa de alimentos e bebidas do mundo, compra mais de 320 mil toneladas de óleo de dendê por ano. Sua co-responsabilidade sobre a destruição das florestas indonésias é clara. A empresa precisa influenciar mudanças positivas na cadeia de produção de seus fornecedores. Mesmo com o bom exemplo da Unilever, multinacional de alimentos e cosméticos que já cancelou seu contrato com a Sinar Mas pelas práticas irresponsáveis, a Nestlé não toma nenhuma atitude. Nestlé, pare de fugir de sua responsabilidade e assuma esse problema. É preciso: - Interromper relações comerciais com qualquer empresa do Grupo Sinar Mas; - Parar de comprar produtos de empresas que comercializam óleo de dendê, papel e celulose da Sinar Mas; - Pressionar o governo e as indústrias da Indonésia para proteger a floresta de turfa, e estabelecer uma moratória pelo fim do desmatamento.

sexta-feira, 26 de março de 2010


QUERO O DIREITO AO ÓCIO!!

Estamos sempre apressados, atrasados, estressados, numa louca e absurda correria que chega a comprometer a nossa saúde e a nossa felicidade.

Por isso, rebelo-me neste momento, largando todo o trabalho que me escraviza para a liberdade da vida com os meus saudosos e queridos amigos...
Rê, minha querida menina, faça o mesmo!!!
Largue tudo e venha ao nosso encontro!!
Pois o tempo passa... E como passa...

A pressa além de ser inimiga da perfeição (apesar de não querer atingi-la e não acreditar nela) é inimiga do bem-estar. Ao fazermos tudo desesperadamente perdemos os detalhes da vida, desprezamos as minúcias que fazem os dias melhores, entramos no automatismo, na desatenção...
A frase que eu mais acredito é que tudo tem seu TEMPO...
Sendo assim, acredito que a vida é uma ESPERA... Esperamos no mínimo nove meses para nascer, tivemos que esperar anos para nos tornarmos adultos, esperamos o amanhecer do dia e a chegada da noite, esperamos pelas estações do ano, por um grande amor, esperamos o metrô chegar à estação, esperamos por dias melhores sempre, esperamos por uma nova grande ideia, esperamos ansiosamente pelo final de semana. Enfim, ESPERAMOS, ESPERAMOS, ESPERAMOS...
Desta forma precisamos ter o tempo como nosso aliado e não o nosso adversário!
Não quero ser escrava do tempo...
Quero ser dona do meu tempo!
Quero que a minha vida transcenda o espaço limitado das horas, dos dias e dos anos. Luto para poder ter tempo! Tempo para os amigos, tempo para a família, tempo para a cerveja, tempo para o livro, tempo para o ócio... Por isso, entristeço-me quando não consigo esse tempo. Por isso, revolto-me com a correria desse mundo pós-moderno louco, que eu não criei, mas que insiste em me devorar!!
Para mim, conseguir essa ampliação do tempo significa a ampliação da vida...

Assim começo essa postagem, que é muito mais um desabafo que uma reflexão!
Cada vez mais fico indignada com essa vida corrida que vivemos!

segunda-feira, 22 de março de 2010

Santo e Orixá



Embora o CD já tenha sido lançado há algum tempo, apenas recentemente tive o prazer desta descoberta. Como nunca é tarde para descobrir o que é bom, aqui vai uma dica musical, mesmo que tardia: o CD Santo e Orixá de Gloria Bomfim.
Navegando por blogs alheios, conheci a história de Gloria. Não conhecia a cantora, nem de nome. Mas a história me tocou.
Gloria era cozinheira e mãe de santo. Gostava de música, em particular de samba. Seu compositor preferido era Paulo César Pinheiro. Um dia, deixa a Bahia e vem para o Rio de Janeiro. O destino mexeu seus pauzinhos e ela foi trabalhar para o casal Luciana Rabello e Paulo César Pinheiro. E trabalhou durante alguns anos na casa do compositor sem saber que ele era ele. Um belo dia, ela trabalhava na cozinha e assobiava um samba quando Luciana fez uma brincadeira: "ô mulher, pare de puxar o saco do patrão". Gloria não entendeu e foi perguntar o que ela afinal quis dizer com aquilo... Só então descobriu que o "Seu Paulo" era o Paulo César Pinheiro, ele mesmo, seu compositor favorito. O desfecho dessa história é o CD Santo e Orixá que traz Gloria cantando canções de Paulo César Pinheiro, todas elas abordando temas ligadas ao candomblé.
Me impressionei com a história, confesso que também me encantei com a idéia de um repertório todo do autor tratando do tema, e imediatamente tratei de encomendar o CD. Valeu a pena. Fiquei maravilhada. Gloria tem uma voz expressiva e singular. Como escreve Luciana Rabello no CD, "Seu canto primitivo, forte, verdadeiro, despretensioso e absolutamente intuitivo é um diamante bruto que representa, de forma emocionada, a cultura dos terreiros de candomblé, trazida pelos negros africanos e mantida aqui pelos mestiços brasileiros."
A trilha que abre esse post é a música que abre e dá nome ao CD: Santo e Orixá. Espero que gostem.

domingo, 21 de março de 2010


Fórum Social Urbano
Nos bairros e no mundo, em luta pelo direito à cidade, pela democracia e justiça urbanas
Rio de Janeiro, Brasil
22 - 26 março de 2010
Em março de 2010, a cidade do Rio de Janeiro irá receber o V Fórum Urbano Mundial. Organizado a cada dois anos pela Agência Habitat da Organização das Nações Unidas (ONU), a expectativa é que este ano o encontro reúna cerca de 50 mil pessoas de todo o mundo.
As edições anteriores do FUM foram dominadas pelas delegações oficiais, enquadradas pela retórica e agenda das organizações multilaterais – Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Aliança de Cidades, entre outras. Palavras, palavras, palavras... mas também um reiterado esforço de impor às cidades de todo mundo, em particular dos países periféricos, o modelo da cidade-empresa competitiva, dos grandes projetos de impacto, que aprofundam as desigualdades e os processos de aburguesamento. A retórica do alívio da pobreza não consegue esconder os fracassos de uma política que submete nossas cidades à lógica do mercado, tanto mais que se desconhecem, ou se silenciam, os mecanismos e processos que produzem e reproduzem cidades desiguais, social e ambientalmente injustas.
Em suas várias edições o FUM também tem sido incapaz de abrir espaço àqueles e àquelas que, em todas as cidades do mundo, resistem à lógica implacável da cidade-empresa e da cidade-mercadoria, que lutam por construir alternativas aos modelos adotados em vários governos, e difundidos pela “ajuda” internacional nem sempre desinteressada e por consultores, assim como por conferências e congressos mundiais onde a miséria urbana de milhões se transforma em frias estatísticas e promessas nunca cumpridas.
Por estas razões, os movimentos sociais e organizações do Rio de Janeiro convidam todos os movimentos sociais e organizações da sociedade civil do mundo a construírem conosco um espaço de ampla e livre manifestação e debate no Fórum Social Urbano. Será um espaço e um tempo para nos conhecermos e reconhecermos, para trocarmos experiências e construirmos coletivamente a perspectiva de uma outra cidade: democrática, igualitária, comprometida com a justiça social e ambiental.
O objetivo do Fórum Social Urbano é o de possibilitar o diálogo, a troca de experiências, a expressão da diversidade e o fortalecimento das articulações de movimentos sociais e organizações do mundo inteiro.
O Fórum Social Urbano se coloca também como uma oportunidade única para desvendar a verdadeira cidade que procuram esconder atrás dos muros e tapumes, assim como atrás dos discursos sobre cidades globais com os quais muitos governos justificam investimentos bilionários em grandes eventos de marketing urbano. Neste sentido, os movimentos e organizações anfitriãs pretendem oferecer aos participantes internacionais e nacionais a possibilidade de conhecer um Rio de Janeiro que não está nos cartões postais nem na propaganda oficial, um Rio de Janeiro injusto e feio, mas que é também rico de resistência e criatividade popular.
De 23 a 26 de março de 2010, em paralelo às atividades do Fórum Urbano Mundial estarão se realizando as atividades do Fórum Social Urbano.
As atividades se organizarão como segue:
- painéis e debates em torno a 4 Eixos: Violências Urbanas e Criminalização da Pobreza; Megaeventos e a Globalização das Cidades; Justiça Ambiental na Cidade; Grandes Projetos Urbanos, Áreas Áreas Centrais e Portuárias;
- mesas e debates propostos por movimentos e organizações do Brasil e de outros países;
- exposições e projeções de vídeos;
- manifestações culturais;
- outras que forem propostas.
OS EIXOS
-Criminalização da Pobreza e Violências Urbanas
Militarização das periferias e bairros populares. Criminalização da pobreza e dos imigrantes. Violências urbanas, em suas múltiplas manifestações. Racismo, machismo e homofobia na cidade. A violência contra as mulheres. Repressão e criminalização dos militantes populares e dos direitos humanos.
- Megaeventos e a Globalização das Cidades
Copa do Mundo, Olimpíadas, exposições internacionais. Impactos de megaeventos internacionais nas cidades, a partir das experiências internacionais e do Rio de Janeiro. Quais são os “legados” e quem são seus beneficiários?
- Justiça Ambiental na Cidade
Meio ambiente, desigualdade e organização do espaço urbano. Saneamento, saúde e meio ambiente. Racismo ambiental. Conflitos ambientais e as lutas de resistência. Mudanças climáticas e as cidades.
- Grandes Projetos Urbanos, Áreas Centrais e Portuárias
“Revitalização” dos centros urbanos e áreas portuárias. Mobilidade. Processos de aburguesamento. Expulsão das populações tradicionais através da violência e através do “mercado”. Grande capital, parcerias público-privadas e a especulação fundiária. Globalização e capitalismo nas cidades.
As atividades do “Fórum Social Urbano” ocorrerão no espaço do Centro Cultural da Ação da Cidadania Contra a Fome, à rua Avenida Barão de Tefé 75, no bairro da Saúde. Trata-se de armazém portuário edificado em 1871, restaurado em 2002, que hoje acolhe eventos políticos, artísticos e culturais
(texto elaborado pelos movimentos sociais que integram a comissão organizadora do FSU)
http://forumsocialurbano.wordpress.com/

terça-feira, 16 de março de 2010

O REI NU...

Prezados meninos e meninas do meu país. Nestes últimos dias estamos envolvidos, principalmente os meninos e meninas daqui do Rio de Janeiro, com as discussões acerca do futuro dos royalties do petróleo do nosso estado.

No meio desse bafafá todo fiquei curiosa em saber o porquê do uso dessa palavra – royalties – e incorporando um espírito a La Carlos Walter, fui buscar e epistemologia da bendita expressão e descobri que royalties deriva de royal, que significa “da realeza” e que royal era o direito que os reis tinham de receber o pagamento pela extração de minerais feita em suas terras.

Pois bem, percebemos que os anos se passaram, muita coisa mudou na história, mas o “REI” permanece no poder reclamando pelo seu ROYAL. E agora é a vez do rei, “Serginho Malvadeza” reclamar pelo seu Royal e dos inúmeros reais que poderá perder o seu reino da Guanabara.

Hoje, o Rio de Janeiro e seus municípios (em especial aqueles que fazem fronteira com a bacia de Campos) são os mais beneficiados com os royalties, já que o estado é o maior produtor de petróleo do país e possui as maiores reservas nacionais do produto. Esses royalties são calculados mensalmente para cada campo produtor e mensalmente esse dinheiro é destinado ao nosso estado e este fato, tornou a economia do Rio de Janeiro altamente dependente desta receita. Daí o motivo de tanto alarde nos últimos dias.

O curioso é percebermos o seguinte. De acordo com o nosso digníssimo rei “Serginho Malvadeza”, a retirada dos royalties do petróleo do RJ, dará um baque nas finanças fluminenses de uma bagatela de nada mais nada menos que R$7,5 bilhões. Segundo o “Malvadeza”, esse dinheiro é destinado para a saúde pública, meio ambiente e aposentadoria.

Agora eu lhes pergunto meus caros leitores: Alguém percebeu esses investimentos na melhoria da qualidade de vida da população e da conservação do meio ambiente? Se alguém viu isso. MOSTRE-ME URGENTEMENTE!!! Pois estou em crise achando que estou vivendo uma cena “saramalesca” de cegueira coletiva.

Acho que é muito evidente que esses recursos estão caindo num caixa dois do governo e sendo usados em qualquer coisa, menos nas melhorias dos setores da saúde pública, previdência e meio ambiente.

Olhando nas entrelinhas desse processo podemos entender um pouco melhor as lágrimas do nosso governador, ops... do REI.

terça-feira, 9 de março de 2010

ATÉ QUE TODAS SEJAMOS LIVRES!

Há alguns anos atrás estava em um bar com uns amigos e um senhor passou vendendo rosas. Um dos amigos na mesa comprou uma rosa e me deu de presente "pelo dia de hoje", ele disse. Era o Dia Internacional da Mulher. Imediatamente, um francês que estava com a gente começou a falar que era uma grande besteira existir um Dia Internacional da Mulher, que era apenas mais uma data vazia e sem sentido, uma data que apenas estimulava o consumismo, assim como o dia dos namorados, o dia das crianças, e tantas outras. Fiquei impressionada com tamanha besteira e, claro, não consegui me calar, tendo início então uma longa discussão.

O Dia Internacional da Mulher não é vazio nem desprovido de sentido, e muito menos foi criado com o intuito de estimular o consumismo. Obviamente aquele francês não fazia idéia da origem do Dia Internacional da Mulher e muito menos de sua conotação política. A alusão a um dia da mulher surge dos movimentos de esquerda na virada do século XIX para o XX, por grupos de mulheres que lutavam pelo direito a voto, a educação, a igualdade nas condições de trabalho e o direito a ocupar cargos públicos. Mulheres em diferentes países estabeleceram um dia nacional de luta e mobilização por seus direitos. E foi em 1910, na 2ª Conferência Internacional de Mulheres Trabalhadoras, que Clara Zetkin trouxe a idéia de criar um Dia Internacional da Mulher, para que no mesmo dia em cada país as mulheres se mobilizassem para levar adiante suas demandas. A proposta foi aprovada com unanimidade e assim surgiu o Dia Internacional da Mulher. O reconhecimento dessa data pelas Nações Unidas veio apenas em 1975.

Assim, o Dia Internacional da Mulher nasce em um contexto de mobilização e luta pela conquista e reconhecimento dos direitos da mulher. Ele não existe para homenagear as mulheres, nem para nos lembrar que somos especiais, para ganharmos os parabéns ou recebemos flores e presentes. Não é uma data de celebração. É uma data de luta, de ação política, de mobilização em busca dos direitos.

E a realidade é que ainda falta muito para a plena realização dos direitos das mulheres. As estimativas apontam que um terço (sim, um terço) das mulheres serão estupradas, coagidas ou forçadas a fazer sexo, serão agredidas fisicamente, ou sofrerão algum tipo de abuso físico ou sexual durante sua vida. Na Libéria, 70% das mulheres (sim, 70%) foram estupradas durante a guerra civil. O corpo da mulher virou território de guerra. Saindo do campo da violência e indo para o campo do trabalho: as mulheres são responsáveis pela maior parte da produção de alimentos no mundo, mas na maior parte dos países da América Central, da África e da Ásia elas não tem o direito legal de herdar a terra em que trabalham. O direito à herança é dos homens. Quando a mulher fica viúva, a terra é herdade pela família do marido, e a mulher e os filhos são expulsos da terra em que viviam e de onde tiravam seu sustento. Parece uma realidade muito distante? Bom, é uma realidade existente e que afeta a vida de milhões de mulheres no mundo. Existem muitos outros exemplos de violação ou não reconhecimento dos direitos das mulheres, histórias de opressão, violência e desigualdade.

Agora talvez você se pergunte como a existência de um Dia Internacional pode ajudar a mudar a realidade dessas mulheres. Um Dia Internacional mobilizando mulheres do mundo inteiro em prol de seus direitos pode mudar muita coisa. É um forte gancho político, um espaço que se abre para o diálogo e para as reivindicações. Um momento em que essas mulheres que lutam e se mobilizam vão nos espaços de decisão política e mostram a ainda muito dura realidade em que vivem e apresentam as suas demandas. Mostram o que deve mudar, o que deve ser feito. E isso tem sim um grande impacto.

Aqueles que menosprezam e apequenam a importância de um dia internacional de luta pelo direito das mulheres são aqueles que ajudam a perpetuar a opressão e a desigualdade no mundo. Estão muito confortáveis na maneira em que vivem e não vêem sentido em mudar o status quo. Não vêem sentido em um dia de luta (seja ele qual for), porque no fundo não querem ver essa realidade mudar. Lamento por eles. Mas isso não vai impedir a transformação de acontecer. Nós vamos nos mobilizar hoje e sempre até que um mundo mais justo e igualitário, livre da fome e da pobreza, livre da opressão e da desigualdade seja realidade para todas nós.

Abrindo esse post, um vídeo do movimento Marcha Mundial das Mulheres que esse ano traz a bandeira "mulheres em marcha até que todas sejamos livres". Para aqueles que estão confortáveis na sua posição menosprezando a mobilização social e a capacidade de transformação da realidade, eu encerro dizendo que nos mobilizaremos hoje e sempre até que todas sejamos livres.

OBS: peço desculpas aos leitores, mas não consegui publicar esse post ontem como queria

domingo, 7 de março de 2010

DA LAMA AO CAOS... MAIS UMA VEZ...


Ontem estava na Lapa, meu habitual reduto de boemia, com uns amigos no final da tarde tomando uma cerveja num dos poucos pé sujos que ainda resistem ao grotesco processo de revitalização do bairro, quando de repente o mundo caiu...

Um temporal amazônico resolveu desaguar na nossa cidade e a sensação que tive era de que a qualquer momento Noé apareceria com a sua barca para arrebanhar um casal de cada espécie e eu já estava com a minha senha nas mãos.
A barca não passou, mas num piscar de olhos, carros começaram a se deslocar, flutuando nas águas das ruas, caixotes, sacos plásticos, lixeiras e quase que o meu engradado de cerveja também se foi...
Sem ter muito o que fazer, pedi mais uma porção de trilha e pus-me a encher o engradado, por uma questão de segurança pública, é claro, seria menos um lixo boiando na cidade.
Após algumas horas a chuva passou e a água das ruas começou a baixar e finalmente pedimos a conta.
Saindo do bar e andando pelas alagadas ruas lapiana deparei-me com os estragos. Carros amassados, bares e restaurantes alagados, árvores tombadas, lixeiras arrastadas e um cheiro de esgoto horroroso.
Continuei a minha caminhada até chegar às portas do meu segundo lar “Clube dos Democráticos” e havia um bilhete que dizia:”Por causa do temporal não abriremos hoje”. Recado óbvio!! Ninguém conseguiria se locomover na cidade ontem a noite e foi a partir desse momento que presenciei duas cenas que causaram-me inquietudes e inspiraram-me a escrever este texto.
A primeira ocorreu na entrada do Democráticos. Enquanto ouvia o papo do Zé, o único garçom do Demo que conseguiu chegar depois de três horas e meia preso no trânsito entre Bonsucesso e a Lapa, observava a conversa ao telefone de uma pseudo cidadã que dizia enfurecida ao celular que não era para o amigo ir ao democráticos porque estava fechado. A criatura gritava no celular, “isso é um absurdo!”, “isso é uma falta de respeito com cliente”, blá, blá, blá...
Esse diálogo estava irritando-me profundamente, mas antes de mandar a criatura navegar no “rio Mem de Sá” que encontrava-se , bem ali, do outro lado da rua, para ela entender porque o lugar não ia abrir, resolvi sair de perto.
Entretanto, para minha surpresa, alguns metros depois, uma das pessoas que estava comigo encontra uma amiga de trabalho, que simplesmente repetiu a fala da acéfala da porta do Democráticos, com algumas doses de “nonsense” que vale a pena descrever:
“Oi tudo bem! Estou aqui puta da vida, porque marquei com a minha amiga de irmos no Brazooka comemorar o aniversário de uma outra amiga e depois de enfrentar essa chuva, cheguei no bar e simplesmente está fechado. ISSO É UM ABSURDO. Já mandei uma mensagem no twitter, reclamando sobre isso, a casa não pode fazer uma sacanagem dessa com o cliente.”
Neste momento, interrompi a louca para dizer:
“A casa não abriu certamente porque os funcionários não conseguiram chegar.”
A louca contra argumentou:
“Mas eu não cheguei? Peguei até um ônibus para chegar aqui...”
E eu respondi:
“Sim, mas certamente você não mora no subúrbio”
E ela respondeu:
“Ééé... Verdade...”
Mas continuou:
“Mas de qualquer maneira, a casa tinha que dar o seu jeito”
E terminou:
“Vou nessa... Vou lá ver o show do Otto...”
A minha vontade foi de responder:
“Vai... Vai lá... Aproveita e vai à M@#$% também...”
Concluindo, voltei pra casa indignada com o egoísmo das pessoas, com a capacidade que o ser humano tem de ser individualista ao extremo. Da falta de bom senso dessas criaturas de perceberem o mundo a sua volta.
Achei esse diálogo tão surreal, porque não era algo tão distante, as pessoas estavam ali, pisando na lama, vendo as ruas alagadas, sentiram na pele o caos da cidade, os seus perfumes importados não superavam o fedor dos águas sujas de esgoto e mesmo assim, cada indivíduo daquele não conseguia parar de pensar nele mesmo. No seu bem-estar pessoal. Na sua balada lapiana perdida.
Mesmo vendo que o universo carioca quase acabou em água ontem, esses seres exigiam os seus “direitos” de serem bem servidos nos recintos “a La zona sul” criados na Lapa. Não queriam saber dos inúmeros Zés que ficaram presos no trânsito alagado da cidade, dos vários outros Zés que estavam sendo soterrados pela lama da chuva e de tantos outros Zés, que sofriam com temporal apenas mais um caos dessa cidade segregada.

sábado, 6 de março de 2010

Entre o enigma de Capitu e o extremo da busca pela racionalidade humana, um meio do caminho...

Incrível! Quando a gente pensa que tudo que é supérfluo ou absolutamente óbvio já foi pesquisado e não há mais nada de bizarro para ser "estudado" nas revistas científicas internacionais, especialmente as norte-americanas, surge alguma nova "descoberta revolucionária". Exemplos disso são inúmeros "pesquisa internacional revela: soneca após o almoço faz bem à saúde" AFF!! Disso já sabia minha tataravó! "Beber água faz bem", "sexo faz bem para a pele" e assim vai... A última revelação publicada na revista Social Psychology Quartely, e que foi objeto de estudo do especialista em psicologia evolutiva da London School of Economics, Satoshi Kanazawa, afirma: "homens inteligentes estão mais propensos a valorizar a exclusividade sexual do que homens menos inteligentes". O que pensar de uma coisa assim?? Me pergunto. A pesquisa relacionou dados sobre comportamentos sociais e QI em adolescentes e adultos, e concluiu que aqueles que acreditam na fidelidade sexual são mais "inteligentes" (têm um QI mais elevado) do que os "infiéis". Para o pesquisador a conclusão é que faz parte da natureza do macho ser polígamo,e o fato de demonstrar interesse pela exclusividade sexual seria um sinal de "evolução da espécie", visto que os homens mais inteligentes estariam dispostos a questionar tabus, transgredir regras sociais e isso seria algo como subverter a "ordem evolutiva", no entender do autor do estudo: "evoluir". No caso das mulheres, a pesquisa revelou que o QI não interfere na opção pela fidelidade ou não, pois as mulheres sempre foram relativamente monogâmicas e isso não representaria efetivamente uma "evolução". Bem, à parte a ligeireza de minha síntese da pesquisa, primeiramente, é interessante notar como o ser humano tem tentado, através da ciência, racionalizar tudo e todos à sua volta. Uma catástrofe para o emocional! Tudo tem de ser explicado "cientificamente", e o que carregamos dentro de nós em mente e espírito é absolutamente descartado. Não é nenhuma apologia espiritualista que eu não sou dessas coisas, mas acredito piamente no poder da nossa mente em nos fortalecer e enfraquecer em diversos aspectos. O excesso de racionalização tem levado à exageros que têm se transformado em verdadeiras patologias sociais e que, ao invés de serem tratados como tal, têm enchido os consultórios médicos com somatizações das mais diversas: dores, doenças inexplicáveis, sintomas incompatíveis, reações alérgicas etc. Por que cuidamos tão mal da nossa cabeça? Por que nos submetemos a tantas coisas que nos violentam e achamos tudo isso normal? Minha segunda observação seria a de que muito do que se calculou, mediu, acompanhou, observou, esquadrinhou, durante sei-lá-quantos-anos de duração desses estudos, poderia ter sido resumido em uma frase simples e muito conhecida, até empiricamente, por muitos de nós e de nossos antepassados há muito tempo: Os homens lidam com o sexo de forma muito mais racional do que nós, mulheres, que lidamos de forma muito mais emotiva. Fato. Não quero dizer que ambos, homens e mulheres, não vivenciem variantes desses "tipos" comuns. Não. Há amor, sentimento da parte de homens e tesão, prazer, sexo-e-ponto-final, da parte das mulheres. Claro. Mas, que somos criaturas ontologicamente diferentes, ah, isso somos! Sem dúvida... Sem querer desmerecer a pesquisa, mas já colocando aquela água no chope: relacionar com ênfase em "determinismos" o QI (por sinal, um critério de avaliação meio obsoleto, segundo a própria psicologia) e a fidelidade, além de ser um exagero, é tosco e estreito, pois homogeneíza, reduz e racionaliza o que não é, necessariamente ou simplesmente, racional. Adoro a teoria Machadiana para a questão da fidelidade contida em Dom Casmurro,essa obra prima, afinal: Traiu ou não Capitu ao Bentinho? Quem dos dois amou mais, quem viveu mais intensamente o amor? Não são essas perguntas a serem respondidas... "A vida é cheia de obrigações que a gente cumpre por mais vontade que tenha de as infringir deslavadamente." Machado de Assis em “Dom Casmurro”

sexta-feira, 5 de março de 2010

As placas do Apartheid



O Museu do Apartheid em Johannesburg é parada obrigatória para qualquer um que passe por essa cidade. O museu é uma aula de história, e muito mais. É um espaço poderoso que fala com você de diversas maneiras. Te sensibiliza e emociona, te provoca solidariedade e revolta. Te desperta profundos sentimentos de indignação. Mas, ao mesmo tempo, te infla de esperança, coragem e a crença na luta pela transformação da realidade. A vida daqueles que lutaram, viveram e às vezes morreram na batalha por transformar uma realidade opressiva e segregadora é fonte de inspiração indescritível. Você termina a jornada pelo museu com uma energia transformadora pulsando dentro do peito. Conhecendo ou não a história da África do Sul, essa jornada é imperdível.
As instalações do museu são construídas para despertar todos esses sentimentos, para que você veja a expressão espacial da segregação racial, para que você sinta a opressão da prisão e de uma cela solitária, para que você se sensibilize ao ouvir as vozes de grandes homens contestando o regime e queira se juntar àquela luta como tantos outros se sensibilizaram ao ouvir aquelas palavras ao vivo em outro tempo.
Ao comprar o ingresso, você recebe um cartão de indentificação indicando "branco" ou "não-branco" e logo na porta da entrada existem placas indicando o caminho a ser seguido (imagem da segunda foto abrindo esse post). Mas a segregação racial entre "brancos" e "não-brancos" era apenas um dos aspectos do Apartheid. O Estado do Apartheid buscava onipresença e onipotência. Através de leis, atos e proclamações, buscava racializar e regular todos os aspectos da vida social e política do país. A vitória do Estado do Apartheid veio apenas em 1948, mas os primeiros atos que fundaram a base do que se seguiu depois datam de algumas décadas antes.
O Ato da Terra, de 1913, determinou a distribuição das terras no país designando apenas 8% da terra para as populações africanas e 92% para os brancos. Esse Ato foi a base da segregação territorial em áreas rurais. O Ato das Áreas Urbanas, de 1923, determinou a segregação residencial nas vilas e cidades. Depois da vitória do regime do Apartheid em 1948, uma sucessão de leis, atos e proclamações foram implementadas para regular o cotidiano da segregação nos mínimos detalhes: O Ato dos Matrimônios Mistos (1949), o Ato de Registro da População (1950), o Ato das Áreas de Grupamentos (1950), e muitos outros. A penetração do Apartheid em cada detalhe da vida cotidiana fez da África do Sul um país de placas (imagem da foto que abre esse post).
Mas se, por um lado, existem movimentos de controle e exercício de poder, por outro existem diversas formas de resistência. E a resistência permanente e cotidiana às regras do Apartheid, que se pretendiam onipresentes e onipotentes, encontrava brechas nessa teia de regulação, obrigando o Estado a formular novos Atos e muitos adendos aos Atos já existentes, conformando uma lista interminável de normas a seguir.
O Ato da Educação Bantu, por exemplo, regulava a educação oferecida aos negros. Eles seriam educados apenas até onde o necessário, ou seja, apenas para serem trabalhadores que serviriam aos brancos. Nas palavras do então Ministro para Assuntos dos Nativos, Sr. Hendrik Verwoerd: "para que ensinar matemática a uma criança Bantu se ela nunca vai usar na prática?". Assim era a perversidade do sistema implementado, buscando segregar a população e minar suas possibilidades de articulação.
Ver esse Estado com mecanismos tão explícitos de segregação embrulha o estômago, dá raiva, revolta. Mas também faz pensar nos mecanismos não tão explícitos, ou bastante implícitos, que existem. Seja através das histórias dessas lutas, ou de qualquer outra maneira, espero que a gente sempre encontre inspiração e força para lutar contra a opressão e a desigualdade em todas as suas formas.



terça-feira, 2 de março de 2010

PARA ONDE O SAMBA VAI?

Neste último sábado (27), logo após a data de nascimento deste blog, morre Walter Alfaiate. O sambista mais elegante e alvinegro do Rio de Janeiro! A morte do Walter Alfaiate fez-me refletir uma coisa. Para onde vai o nosso samba? É triste ver mais esta perda, assim como foi triste perdermos Luiz Carlos da Vila em 2008 e tantos outros que já fecharam as suas cortinas e agora enobrecem os céus, com as suas poesias que tanto nos encantaram aqui na terra. Mais triste ainda é perceber que as novas gerações não estão fazendo juz ao peso que o samba carrega para a nossa cultura. Existe sim uma nova geração de sambista, inclusive, podemos dizer que existe uma imensa nova geração. Entretanto, a quantitativo que emerge não corresponde ao qualitativo do passado. Não estou querendo fazer o papel melancólico saudosista dos áureos tempos idos do samba e muito menos estou falando do surgimento de gênios como o Cartola, porque essas preciosidades são raras e nascem de longos em longos tempos... Estou falando apenas de sambistas de respeito. Estou falando de sambistas que carregam neste nome uma identidade de vida e não um simbolismo da moda. Estou falando de sambistas de verdade! Por que é isso meu povo, o samba virou moda. O samba virou produto. O samba passou a ser o quanto $VALE$. O samba está deixando de ser encanto e melodia. Gente boa, sambistas autênticos, aparece neste novo cenário, não estou negando isso. Conheço algumas destas relíquias. Mas são poucos... A maioria ao invés de enobrecer o samba só empobrece. Só faz vergonha! E isso ocorre nas mais diversas vertentes deste gênero. A sensação que dá, sem falso pieguismo, é que o samba está vendido ao sistema. Aproveitando o término do carnaval, vou citar como exemplo os sambas das escolas. A cadência melodiosa dos sambas-enredos, por exemplo, perderam lugar para o ritmo frenético de uma bateria alucinada, que precisa tocar num ritmo enlouquecedor para dar conta dos dez mil componentes que precisam passar, ou melhor, correr na avenida. Os desfiles, na realidade, viraram maratonas. As letras dos sambas viraram jingle das empresas ou estados patrocinadores e os enredos, são um mais tosco que o outro. Não há mais espaço para a poesia. Porque a ‘alegria’ tem que rimar com ‘simpatia’, porque isso ‘contagia’ e faz todo mundo entrar na ‘folia’. A ordem é facilitar, ou o que é pior, a ordem é não pensar. Samba de cunho crítico-social? Ahhhh... Pra que? O negócio é falar de Brasília, mas não comentar sobre a corrupção do planalto central. O importante é mostrar a falsa “harmonia” que virou o morro Dona Marta, sem criticar a atuação bizarra do prefeito, muito menos da enorme segregação social existente na nossa cidade. É exaltar o choque de ordem, tirar apenas uma nota abaixo de 10 dos jurados e subir para o grupo especial. É por essas e outras meus amigos, que no ano do centenário de Noel Rosa, aproprio-me dos seus versos para pedir “Silêncio de um minuto! O meu samba está de luto”, mas não pela morte de um amor como dizia o samba de Noel e sim pela morte de mais um sambista, Walter Alfaiate, pela morte lenta das escolas de samba e pela morte constante da poesia e da alegria dos nossos sambas...

segunda-feira, 1 de março de 2010

Faltava eu! Aqui estou!

Amigos e amigas, meninas e meninos, prezados visitantes,

Faltava eu na inauguração desse Fofo-Blog, afinal ele está fofo, não? Pois bem, aqui estou!

Venho trazer-lhes uma inquietação: Sobre meninos (e meninas, claro!), sobre o ato de escrever, sobre despropósitos e sonhos.

Perdoem se esta postagem ficar um pouco longa para um blog, mas o poema é irresistível!

Decidi trazer Manuel de Barros para nosso deleite, pois ele traduz de forma singela e incrivelmente doce algo que, para mim (e acredito que para muita gente) sempre foi tão difícil quanto carregar água numa peneira: escrever! Difícil não só pela forma (a língua portuguesa, em si, já é dificílima!), mas pelo conteúdo, pela maneira como as idéia nos atravessam ao escoarem da cabeça até as mãos... No meu caso, isso sempre foi quase dolorido. Escrever redações, trabalhos, monografia dissertação, uma DOR.

Pensar é mais fácil, falar (quase sempre) mais fácil, mas escrever, ou pior, começar um texto, muito difícil. Descobri esse medo ao perceber que escrever nos coloca em diálogo conosco. Um vazio cheio de nós!

Por isso me vali de uma companhia de peso para ajudar na inspiração e dar coragem nesse meu início de jornada. Como nós fazemos na infância ao chamar um adulto em quem confiamos, ao qual admiramos, se sentimos medo de ir a algum lugar sozinhos...

Aqui no nosso blog espero meditar essa minha relação com a palavra escrita. Espero conseguir sentir, no ato de escrever, essa leveza de uma peneira cheeeeia de água.

Espero, assim como o Menino de Manuel de Barros, ser mais ligada em sonhos, ainda que sejam despropósitos; gostar mais dos vazios, justamente por serem infinitamente cheios de nós!

O menino que carregava água na peneira

Manoel de Barros

Tenho um livro sobre águas e meninos.

Gostei mais de um menino

que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira

era o mesmo que roubar um vento e sair

correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água

O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.

Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino

gostava mais do vazio

do que do cheio. Falava que os vazios são maiores

e até infinitos.

Com o tempo aquele menino

que era cismado e esquisito

porque gostava de carregar água na peneira

Com o tempo descobriu que escrever seria

o mesmo que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu

que era capaz de ser

noviça, monge ou mendigo

ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.

Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.

E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro

botando ponto final na frase.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.

O menino fazia prodígios.

Até fez uma pedra dar flor!

A mãe reparava o menino com ternura.

A mãe falou:

Meu filho você vai ser poeta.

Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os

vazios com as suas

peraltagens

e algumas pessoas

vão te amar por seus

despropósitos.

A África do Sul e a Copa

Apesar do Brasil ser visto como o país do futebol, eu não sou lá muito fã do esporte mais popular entre entre os brasileiros... Antes dessa viagem, todas as vezes que mencionei que viria para a África do Sul, alguém fez algum comentário sobre a Copa do Mundo. "E aí, vai lá assistir um jogo?", "poxa, quem dera poder estar lá durante a copa", "legal a copa ser em um país africano", e por aí vai. Então, apesar do futebol não estar entre meus assuntos favoritos, acabou entrando na agenda. Assim que cheguei aqui, comecei a perguntar. Queria saber, afinal, o que os sul africanos estão achando de sediar a próxima Copa do Mundo. Não tive a oportunidade de consultar muitos, mas o retorno que tive à minha indagação não foi muito positivo.
Logo de cara recebi uma resposta muito desanimada, reclamando do volume de dinheiro investido na construção dos estádios, reformas e obras em estradas. Dinheiro que deveria estar sendo investido em outro lugar. Houve também um grande desânimo em imaginar a cidade recebendo em torno de 100 mil pessoas e o caos que isso pode gerar.
Uma preocupação maior, e mais séria a meu ver, é a alta nos preços. Tudo está mais caro na cidade, inclusive a comida. Mas, no mercado, não existe diferenciação dos preços para os turistas e os moradores locais, é claro. O impacto da alta de preços dos alimentos no contexto da recente crise alimentar e financeira é ainda mais preocupante. E nós ainda estamos em março... imagina o que acontecerá em junho e julho.
Aqui, assim como no Brasil e em muitos outros países, existe um mercado informal muito forte. Claro, com a vinda de tantos turistas, esse mercado informal poderia também se beneficiar. Mas entrou em vigor uma espécie de "choque de ordem". Nada de mercados, de vendedores ambulantes. Apenas as grandes empresas (que obviamente negociaram para isso) estão autorizadas a fazer comércio (seja venda de artigos como camisetas, ou bebidas e comidas em geral). Não houve nada parecido com um cadastro desses vendedores individuais para que partilhassem uma fatia desse bolo.
Mas, o que mais me impressionou, veio de um relato de uma amiga sul africana. Ela conta que aqui é muito comum nas townships (as favelas) os botecos locais, mercadinhos e biroscas em geral transmitirem o jogo em uma TV e cobrarem uma entrada dos espectadores. Pouca gente tem TV em casa nesses bairros, e faz parte da cultura local se aglomerar nesses espaços para assistir televisão. É um evento, o programa de sábado à noite. É o espaço de socialização. Alguns desses lugares produzem sua própria cerveja artesanal (que, aliás, é um fermentado de sorgo com aspecto de iogurte e um gosto nada agradável). A Copa será (ou seria) um grande acontecimento. Possibilidade de diversão (afinal o pessoal gosta de futebol) e também de um lucro para os donos dos botecos, biroscas e afins. Mas, nessa copa, para ter autorização para transmitir coletivamente um jogo de futebol em lugar público será necessário pagar uma taxa de 50 mil Rands. Obviamente que os bares e restaurantes de Melvile, Rosebank e outros bairros da elite (branca) sul africana, pagarão a taxa com tranquilidade. Mas em Soweto quem terá condições de arcar com esse custo?
Minha impressão é mesmo a de que quem vai se beneficiar com a presença da Copa são os grandes. As grandes construtoras, as companhias aéreas, as grandes empresas de comércio de alimentos, as redes de hotéis, as lojas do shopping center. Algumas oportunidades de emprego (temporário, claro) virão. Mas nem de longe a dinamização da economia (mesmo que transitória) que a vinda da Copa provoca está promovendo os benefícios que poderia.
Previsível? Pode ser. Mas o discurso para "vender" a idéia de sediar uma Copa do Mundo ou os Jogos Olímpicos é sempre essa. No caso do Rio de Janeiro, essa idéia é fortíssima. E ai de quem falar contra isso... Quem sabe não podemos refletir um pouco sobre os reais beneficiados com esse tipo de evento? O processo está apenas começando. Ainda é tempo de fazer alguma coisa.