Três meninas. Três histórias diferentes que se encontram. Três linhas distintas de pensamento, que se unem formando um maravilhoso mosaico de histórias, ideias e experiências. Encontram-se nas afinidades e completam-se nas diferenças, enlaçando-se nas alegrias e tropeços da vida. Escrevem aqui para celebrar, compartilhar e aprender. Para refletir sobre as experiências do passado, as inquietudes do presente e as incertezas do futuro. Nessa sucessão de encontros e desencontros, buscam entender melhor o mundo. Tudo isso regado por um pouco de geografia, política, arte e muito ziriguidum!

segunda-feira, 1 de março de 2010

Faltava eu! Aqui estou!

Amigos e amigas, meninas e meninos, prezados visitantes,

Faltava eu na inauguração desse Fofo-Blog, afinal ele está fofo, não? Pois bem, aqui estou!

Venho trazer-lhes uma inquietação: Sobre meninos (e meninas, claro!), sobre o ato de escrever, sobre despropósitos e sonhos.

Perdoem se esta postagem ficar um pouco longa para um blog, mas o poema é irresistível!

Decidi trazer Manuel de Barros para nosso deleite, pois ele traduz de forma singela e incrivelmente doce algo que, para mim (e acredito que para muita gente) sempre foi tão difícil quanto carregar água numa peneira: escrever! Difícil não só pela forma (a língua portuguesa, em si, já é dificílima!), mas pelo conteúdo, pela maneira como as idéia nos atravessam ao escoarem da cabeça até as mãos... No meu caso, isso sempre foi quase dolorido. Escrever redações, trabalhos, monografia dissertação, uma DOR.

Pensar é mais fácil, falar (quase sempre) mais fácil, mas escrever, ou pior, começar um texto, muito difícil. Descobri esse medo ao perceber que escrever nos coloca em diálogo conosco. Um vazio cheio de nós!

Por isso me vali de uma companhia de peso para ajudar na inspiração e dar coragem nesse meu início de jornada. Como nós fazemos na infância ao chamar um adulto em quem confiamos, ao qual admiramos, se sentimos medo de ir a algum lugar sozinhos...

Aqui no nosso blog espero meditar essa minha relação com a palavra escrita. Espero conseguir sentir, no ato de escrever, essa leveza de uma peneira cheeeeia de água.

Espero, assim como o Menino de Manuel de Barros, ser mais ligada em sonhos, ainda que sejam despropósitos; gostar mais dos vazios, justamente por serem infinitamente cheios de nós!

O menino que carregava água na peneira

Manoel de Barros

Tenho um livro sobre águas e meninos.

Gostei mais de um menino

que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira

era o mesmo que roubar um vento e sair

correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água

O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.

Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino

gostava mais do vazio

do que do cheio. Falava que os vazios são maiores

e até infinitos.

Com o tempo aquele menino

que era cismado e esquisito

porque gostava de carregar água na peneira

Com o tempo descobriu que escrever seria

o mesmo que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu

que era capaz de ser

noviça, monge ou mendigo

ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.

Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.

E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro

botando ponto final na frase.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.

O menino fazia prodígios.

Até fez uma pedra dar flor!

A mãe reparava o menino com ternura.

A mãe falou:

Meu filho você vai ser poeta.

Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os

vazios com as suas

peraltagens

e algumas pessoas

vão te amar por seus

despropósitos.

6 comentários:

Fidel disse...

LINDO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Estréia maravilhosa!!!!

Renata disse...

Tati, que lindo poema! Uma grande estréia no blog!
Escrever em geral é um processo muito dificil e muitas vezes doloroso mesmo.
E, olha, essas meninas são pura sintonia! Eu estou aqui na África do Sul, justamente fazendo um treinamento em escrita e outras formas de comunicação.
Acho que, com esse blog, estamos também vencendo nossos próprios medos e superando bloqueios.

Beijo pras meninas!

Henri disse...

"...e algumas pessoas

vão te amar por seus

despropósitos."


Que fofo, Tati!
Ai, seu Manoel de Barros... =)
Beijos

Anônimo disse...

Lindo, né, gente...? Ai, ai (supiro)...

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Patricia disse...

Olha, estou ficando com medo da nossa sintonia!!
Primeiro, estava na minha lista de postagem, escrever um texto sobre a Copa na África do Sul, por causa de uma reportagem que li no Brasil de Fato e gerou inspirações, ai a Rê escreve sobre o tema.
Depois a Taty, escreve um texto inspirada no meu amado Manuel de Barros e ontem estava na Saraiva com um livro dele nas mãos para comprar (O livros das ingnorãnças) e só desisti porque a fila estava inviável.
Isso está sendo incrível!!!
ADOREI!!!

Taty, parabéns pelo texto!! Fofo como o nosso blog. :)