Três meninas. Três histórias diferentes que se encontram. Três linhas distintas de pensamento, que se unem formando um maravilhoso mosaico de histórias, ideias e experiências. Encontram-se nas afinidades e completam-se nas diferenças, enlaçando-se nas alegrias e tropeços da vida. Escrevem aqui para celebrar, compartilhar e aprender. Para refletir sobre as experiências do passado, as inquietudes do presente e as incertezas do futuro. Nessa sucessão de encontros e desencontros, buscam entender melhor o mundo. Tudo isso regado por um pouco de geografia, política, arte e muito ziriguidum!

segunda-feira, 1 de março de 2010

A África do Sul e a Copa

Apesar do Brasil ser visto como o país do futebol, eu não sou lá muito fã do esporte mais popular entre entre os brasileiros... Antes dessa viagem, todas as vezes que mencionei que viria para a África do Sul, alguém fez algum comentário sobre a Copa do Mundo. "E aí, vai lá assistir um jogo?", "poxa, quem dera poder estar lá durante a copa", "legal a copa ser em um país africano", e por aí vai. Então, apesar do futebol não estar entre meus assuntos favoritos, acabou entrando na agenda. Assim que cheguei aqui, comecei a perguntar. Queria saber, afinal, o que os sul africanos estão achando de sediar a próxima Copa do Mundo. Não tive a oportunidade de consultar muitos, mas o retorno que tive à minha indagação não foi muito positivo.
Logo de cara recebi uma resposta muito desanimada, reclamando do volume de dinheiro investido na construção dos estádios, reformas e obras em estradas. Dinheiro que deveria estar sendo investido em outro lugar. Houve também um grande desânimo em imaginar a cidade recebendo em torno de 100 mil pessoas e o caos que isso pode gerar.
Uma preocupação maior, e mais séria a meu ver, é a alta nos preços. Tudo está mais caro na cidade, inclusive a comida. Mas, no mercado, não existe diferenciação dos preços para os turistas e os moradores locais, é claro. O impacto da alta de preços dos alimentos no contexto da recente crise alimentar e financeira é ainda mais preocupante. E nós ainda estamos em março... imagina o que acontecerá em junho e julho.
Aqui, assim como no Brasil e em muitos outros países, existe um mercado informal muito forte. Claro, com a vinda de tantos turistas, esse mercado informal poderia também se beneficiar. Mas entrou em vigor uma espécie de "choque de ordem". Nada de mercados, de vendedores ambulantes. Apenas as grandes empresas (que obviamente negociaram para isso) estão autorizadas a fazer comércio (seja venda de artigos como camisetas, ou bebidas e comidas em geral). Não houve nada parecido com um cadastro desses vendedores individuais para que partilhassem uma fatia desse bolo.
Mas, o que mais me impressionou, veio de um relato de uma amiga sul africana. Ela conta que aqui é muito comum nas townships (as favelas) os botecos locais, mercadinhos e biroscas em geral transmitirem o jogo em uma TV e cobrarem uma entrada dos espectadores. Pouca gente tem TV em casa nesses bairros, e faz parte da cultura local se aglomerar nesses espaços para assistir televisão. É um evento, o programa de sábado à noite. É o espaço de socialização. Alguns desses lugares produzem sua própria cerveja artesanal (que, aliás, é um fermentado de sorgo com aspecto de iogurte e um gosto nada agradável). A Copa será (ou seria) um grande acontecimento. Possibilidade de diversão (afinal o pessoal gosta de futebol) e também de um lucro para os donos dos botecos, biroscas e afins. Mas, nessa copa, para ter autorização para transmitir coletivamente um jogo de futebol em lugar público será necessário pagar uma taxa de 50 mil Rands. Obviamente que os bares e restaurantes de Melvile, Rosebank e outros bairros da elite (branca) sul africana, pagarão a taxa com tranquilidade. Mas em Soweto quem terá condições de arcar com esse custo?
Minha impressão é mesmo a de que quem vai se beneficiar com a presença da Copa são os grandes. As grandes construtoras, as companhias aéreas, as grandes empresas de comércio de alimentos, as redes de hotéis, as lojas do shopping center. Algumas oportunidades de emprego (temporário, claro) virão. Mas nem de longe a dinamização da economia (mesmo que transitória) que a vinda da Copa provoca está promovendo os benefícios que poderia.
Previsível? Pode ser. Mas o discurso para "vender" a idéia de sediar uma Copa do Mundo ou os Jogos Olímpicos é sempre essa. No caso do Rio de Janeiro, essa idéia é fortíssima. E ai de quem falar contra isso... Quem sabe não podemos refletir um pouco sobre os reais beneficiados com esse tipo de evento? O processo está apenas começando. Ainda é tempo de fazer alguma coisa.

13 comentários:

Patricia disse...

Amiga, arrebentou na postagem!!

Qualquer semelhança com algo CONHECIDO é mera coincidência!!

Isso é o que nos espera amigos!!

Fidel disse...

"Amiga, arrebentou na postagem!!

Qualquer semelhança com algo CONHECIDO é mera coincidência!!

Isso é o que nos espera amigos!!" [2]

Muito bom, Rê!!!

PS: Não esuqece minha camisa, tá? kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Renata disse...

hahahahaha
sabe que quase mencionei os pedidos de camisas da seleção?
se não achar a camisa, uma fotinho da girafa serve né?
rsrsrsrs

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Pois é, esse seu texto além de me lembrar do caso Rio 2016, é claro, me remeteu a uma reportagem surreal de tão absurda que assisti no "Fantástico" ontem. O instituto Akatu encomendou uma pesquisa em que divulgavam empreendimento imobiliários absurdo e totalmente inconcebíveis (como condomínios no morro da Urca (é no MORRO!), no meio da Lagoa de Florianópolis e do Lago Paranoá (É NO MEIO!!), na areia da principal praia do Recife e assim vai. O que foi estarrecedor é que nos stands de vendas a maioria das pessoas (é MAIS de 50%!) achava aquilo BOM ou ÓTIMO! menos de 30% em todas as localidades questionavam a privatização de espaços públicos (paria, lagoas, mata) e o impacto causado por tais construções. Conclusão: Ninguém pensa mais, nem um milímetro que seja, para além do seu umbiguinho. Viva a Copa, viva o Rio 2016, "Viva eu e F%$#%%$$ o mundo que eu não me chamo Raimundo"!

Patricia disse...

Ahhhh...
Rê depois dessa postagem pode colocar mais umas dez zebras, vinte cinco girafas e tudo mais que você quiser que o Felipe não vai mais reclamar!!! :)))))))

Alexandre disse...

Rê, muito legal a citação sobre as TVs nos botecos, são os gatonets daí, né? Mas é coisa de entrar em pauta de jornal, porque a galera de soweto não vai ter como ir aos estádios na copa nem ver pela TV tomando aquela cervejinha artesanal que vc tão bem descreveu... Vai ser pelo radinho? Beijo!

Anônimo disse...

E parece que o Eduardo Paes já baixou o mesmo decreto para a Copa em 2014... Proibidas televisões em bares do Rio!

Picaretas da Távola Redonda disse...

Hummmm... pelo post realmente pode rolar um perdão.
Sobre a copa da África, eu que conheci uma espécie de "Leblon da África do Sul" (a Re deve conhecer)confesso que queria muito ir viu. Tentei (pesquisei, melhor dizendo) até comprar ingressos pra Copa. Mas náo rolou.....

Rê, adorei esse a África do Sul. Me deu uma vontade de conhecer mais..... ainda volto!

Sobre o que representa a Copa e suas consequências... to com preguiça de escrever valeu!

OBS: se a cada comentário que eu fizer aqui eu tiver que escrever "os caracteres exibidos acima" eu vou parar de comentar no blog fofo....fui claro? Tira isso caraca!

schllob disse...

tem que dar visibilidade a esse artigo ai : http://digg.com/d31KTr5
segue o endereço a cima e vota (digg) para ele ser destacado no digg !!!!!!!

ré, gostei!

beijos

Anônimo disse...

Pronto, Chefe! Pedido atendido!

nataraj disse...

o Caso da África do Sul tem que ter mais visibilidade, sim.
´
Incrível como algo como o beneficiamento de grande empreendedores é tão óbvio para poucos... A exclusão tão sentida na pele por muito e os números tão mascarado por tabelas e perspectivas financeiras. O verdadeiro me bate que eu gosto.

Deveria ter uma regra: países onde existe fome está fora de competição. Cidades cujo sistema de saúde é precário, fora! Cidades cuja educação pública é uma piada, fora! E assim por diante.

Renata disse...

Felipe, tem muita coisa interessante para conhecer aqui sim. Mas confesso que outros países do continente me despertammaior interesse.

Nataraj, seja bem vinda! Que bom ter seu comentário aqui!