Há alguns anos atrás estava em um bar com uns amigos e um senhor passou vendendo rosas. Um dos amigos na mesa comprou uma rosa e me deu de presente "pelo dia de hoje", ele disse. Era o Dia Internacional da Mulher. Imediatamente, um francês que estava com a gente começou a falar que era uma grande besteira existir um Dia Internacional da Mulher, que era apenas mais uma data vazia e sem sentido, uma data que apenas estimulava o consumismo, assim como o dia dos namorados, o dia das crianças, e tantas outras. Fiquei impressionada com tamanha besteira e, claro, não consegui me calar, tendo início então uma longa discussão.
O Dia Internacional da Mulher não é vazio nem desprovido de sentido, e muito menos foi criado com o intuito de estimular o consumismo. Obviamente aquele francês não fazia idéia da origem do Dia Internacional da Mulher e muito menos de sua conotação política. A alusão a um dia da mulher surge dos movimentos de esquerda na virada do século XIX para o XX, por grupos de mulheres que lutavam pelo direito a voto, a educação, a igualdade nas condições de trabalho e o direito a ocupar cargos públicos. Mulheres em diferentes países estabeleceram um dia nacional de luta e mobilização por seus direitos. E foi em 1910, na 2ª Conferência Internacional de Mulheres Trabalhadoras, que Clara Zetkin trouxe a idéia de criar um Dia Internacional da Mulher, para que no mesmo dia em cada país as mulheres se mobilizassem para levar adiante suas demandas. A proposta foi aprovada com unanimidade e assim surgiu o Dia Internacional da Mulher. O reconhecimento dessa data pelas Nações Unidas veio apenas em 1975.
Assim, o Dia Internacional da Mulher nasce em um contexto de mobilização e luta pela conquista e reconhecimento dos direitos da mulher. Ele não existe para homenagear as mulheres, nem para nos lembrar que somos especiais, para ganharmos os parabéns ou recebemos flores e presentes. Não é uma data de celebração. É uma data de luta, de ação política, de mobilização em busca dos direitos.
E a realidade é que ainda falta muito para a plena realização dos direitos das mulheres. As estimativas apontam que um terço (sim, um terço) das mulheres serão estupradas, coagidas ou forçadas a fazer sexo, serão agredidas fisicamente, ou sofrerão algum tipo de abuso físico ou sexual durante sua vida. Na Libéria, 70% das mulheres (sim, 70%) foram estupradas durante a guerra civil. O corpo da mulher virou território de guerra. Saindo do campo da violência e indo para o campo do trabalho: as mulheres são responsáveis pela maior parte da produção de alimentos no mundo, mas na maior parte dos países da América Central, da África e da Ásia elas não tem o direito legal de herdar a terra em que trabalham. O direito à herança é dos homens. Quando a mulher fica viúva, a terra é herdade pela família do marido, e a mulher e os filhos são expulsos da terra em que viviam e de onde tiravam seu sustento. Parece uma realidade muito distante? Bom, é uma realidade existente e que afeta a vida de milhões de mulheres no mundo. Existem muitos outros exemplos de violação ou não reconhecimento dos direitos das mulheres, histórias de opressão, violência e desigualdade.
Agora talvez você se pergunte como a existência de um Dia Internacional pode ajudar a mudar a realidade dessas mulheres. Um Dia Internacional mobilizando mulheres do mundo inteiro em prol de seus direitos pode mudar muita coisa. É um forte gancho político, um espaço que se abre para o diálogo e para as reivindicações. Um momento em que essas mulheres que lutam e se mobilizam vão nos espaços de decisão política e mostram a ainda muito dura realidade em que vivem e apresentam as suas demandas. Mostram o que deve mudar, o que deve ser feito. E isso tem sim um grande impacto.
Aqueles que menosprezam e apequenam a importância de um dia internacional de luta pelo direito das mulheres são aqueles que ajudam a perpetuar a opressão e a desigualdade no mundo. Estão muito confortáveis na maneira em que vivem e não vêem sentido em mudar o status quo. Não vêem sentido em um dia de luta (seja ele qual for), porque no fundo não querem ver essa realidade mudar. Lamento por eles. Mas isso não vai impedir a transformação de acontecer. Nós vamos nos mobilizar hoje e sempre até que um mundo mais justo e igualitário, livre da fome e da pobreza, livre da opressão e da desigualdade seja realidade para todas nós.
Abrindo esse post, um vídeo do movimento Marcha Mundial das Mulheres que esse ano traz a bandeira "mulheres em marcha até que todas sejamos livres". Para aqueles que estão confortáveis na sua posição menosprezando a mobilização social e a capacidade de transformação da realidade, eu encerro dizendo que nos mobilizaremos hoje e sempre até que todas sejamos livres.
OBS: peço desculpas aos leitores, mas não consegui publicar esse post ontem como queria
19 comentários:
Tenho até pena desse francês que cometeu o desatino de distutir esse assunto com você, Renatinha!! hahahaha
Paty! Tô adorando a trilha sonora que acompanha a postagem mais recente...
Capitu - Beirut
Da Lama ao Caos - Águas de março
Falta um tema musical ativista e feminista para o post da Rê!!! hahaha
São as Três Meninas hiper-antenadas na "transmídia" (Uau! aprendi o que é isso anteontem... verdade! hehe).
Meninas que blog interessante, divertido e muito fofo mesmo. Sem contar que pelo jeito vocês tem um gosto musical pra lá de refinado. Se tem samba e Beirut então eu já me rendi.
Sucesso pra vocês!
Bjos!
Pois é, Tati, o sujeito não sabia com quem ele estava prestes a discutir...rsrsrs
Vou pensar em uma trilha!
Transmídia... eu ainda não aprendi o que é isso...rsrsrs
Mas do jeito que a Paty está antenada, tenho certeza que vamos aprender isso muuuuito mais!
Obrigada, Dani!
Sejamuito bem vinda e fique à vontade... aceitamos opiniões, sugestões e críticas construtivas, viu? hehehehe Beijo!
Pois é Renata, temos a Paty como suporte high-tech... então, tá tranquilo!! rs
Re, que beleza!!! Belo post.... gostei!
Olá meninas!!
Desculpem a demora!! :)
Rê, li o seu post ontem, mas tive um dia tão corrido...
Minha flor, lindo texto!
E como virei o suporte high-tech, segundo a Taty, não posso deixar o seu texto sem o uma trilha sonora a altura :)
Por isso, lá vai "Maria, Maria", em homenagem às inúmeras Marias desse Brasil e do mundo que vivem a dureza e a doçura de ser MULHER!!!
Ahhh esqueci de pontuar que a música vem na voz de Elis Regina!!
Uma mulher que dispensa comentários...
Obs.: Bem vinda Dany!!!
P-e-r-f-e-i-t-a a trilha sonora, Paty!
Não podia ter escolha melhor! Na voz da Elis então... UAU!
Beijo!
P-e-r-f-e-i-t-a a trilha sonora, Paty!
Não podia ter escolha melhor! Na voz da Elis então... UAU!
Beijo!
Meninas lindas, viva nóissss! Todos los dias! Porque é preciso ter manha, graça e sonho SEMPRE. =)
Eu, como boa Maria, tenho essa estranha mania de ter fé na vida!
Belo texto, Rê!
Beijossss
Parabéns pelo blog!!! A visão feminina é sempre fundamental!
Parabéns Renata!!
Mulheres como você fazem certamente muita diferença no mundo!
beijos
OFF post: a coisa mais foda do blog é aquele gato em "meninice".
Esqueci de assinar o post anterior.
Rsrsrs... Pois é Fidel!!!
Ele era pra ser temporário e virou mascote!!
ADOREI!!!! auahuahuahuahuahuahuahu!!!!!
Dei um mortal carpado de costas aqui!!!!! Muito maneiro!!!!!
Ah, blog concorrente é o do Chefe... eu sou parceiro :)
(Apesar do absurdo do cara que quer entrevistar vcs desconhecer o Picaretas... afff......)
Esse blog de vcs tá de sacanagem comigo!!! Toda hora a postagem vai sem assinatura...
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