Três meninas. Três histórias diferentes que se encontram. Três linhas distintas de pensamento, que se unem formando um maravilhoso mosaico de histórias, ideias e experiências. Encontram-se nas afinidades e completam-se nas diferenças, enlaçando-se nas alegrias e tropeços da vida. Escrevem aqui para celebrar, compartilhar e aprender. Para refletir sobre as experiências do passado, as inquietudes do presente e as incertezas do futuro. Nessa sucessão de encontros e desencontros, buscam entender melhor o mundo. Tudo isso regado por um pouco de geografia, política, arte e muito ziriguidum!

domingo, 11 de julho de 2010

Em trânsito: notícias da longa jornada

Estou no Vietnã. Foi uma longa jornada do Rio de Janeiro até Hanoi. Alguns comentários, impressões e desgostos desse caminho seguem abaixo. A Air France é uma das piores companhias aéreas. A cadeira é mínima, as aeronaves são velhas, sujas, tudo está desmontando por dentro, não tem tv individual (o que em vôos longos hoje em dia é inadimissível), o serviço de bordo é o pior possível, e a simpatia dos comissários de bordo inexistente. Apesar de toda comida de avião em geral ser ruim, a da Air France tinha uma única vantagem: o queijo brie e manteiga President. Sempre peço comida vegetariana nos vôos porque em geral é mais tragável. Descobri agora que, para a Air France, o vegetariano é lacto vegetarianao e portanto nada de queijo ou manteiga em qualquer das refeições, inclusive café da manhã. Ou seja, perdi a única coisa que presta no vôo da Air France. Meu trajeto foi Rio - Paris - Bangkok - Hanoi, com 11 horas de espera em Paris pelo vôo de conexão. Muito cansativo, claro. Por isso, decidi que ao chegar em Paris iria fazer check-in em algum desses hotéis de aeroporto. Chegando lá, perguntei a três pessoas diferentes que me disseram que não havia hotel por ali e que eu deveria ir para o portão de embarque e aguardar as longas onze horas por lá. Conformada com a situação, fui para o portão de embarque. De dentro do ônibus interno do aeroporto que me transportava, avistei três hotéis... Chegando no meu portão de embarque, tentei então sair para me acomodar em um dos hotéis. Descobri que não seria possível, uma vez na área de embarque, não podia mais sair de lá. Deveria ter saído no terminal que desembarquei, lá onde me informaram que não havia hotel algum. Os franceses são ótimos para dar informações. Mais uma vez conformada, fui procurar um lugar para comer. Afinal, estava em Paris e pelo menos a comida durante as longas onze horas valeria a pena. Que engano... O terminal onde eu estava tinha duas lanchonetes, um café e muitas lojas do freeshop. E só. Nas lanchonetes, as opções eram terríveis. Sanduíches prontos embalados (tipo de supermercado), "pasta in box", "cheesburgger in box", e batas chips e biscoitos em geral. Não acreditei. Não podia estar em Paris e ter que comer "pasta in box". Tinha que ter algum outro lugar ali para comer. Perguntei a uma vendedora de uma das lojas se havia algum restaurante. Ela me disse que sim, e apontou para as duas lanchonetes. Eu disse que aquelas eram apenas lanchonetes e perguntei se não haveria algum restaurante de verdade. Ela me disse que não. Uma francesa muito simpática ao lado dela resmungou: "mas por que ela quer um restaurante? Pra que restaurante em aeroporto?". Pra que? Então tá... Me conformei, peguei minha maravilhosa "pasta in box", esquentei no microondas e comi. Ou melhor, tentei comer. Estava intragável, nojento. Sabe aquelas noticias de coisas estranhas encontradas em molho de tomate? Vale pro macarrão. Fui então matar a minha fome com um bolo de cenoura no café. Depois da frustração gastronômica, fui tentar dormir um pouco nas cadeiras do aeroporto. E consegui! Acordei bemna hora de ver o jogo Brasil x Holanda. Volto à lanchonete onde tem TV. Não está passando o jogo. Pergunto à garçonete e ela me diz que não pode mudar de canal agora porque está muito ocupada. Eu insisto, digo que é copa do mundo, que o Brasil vai jogar, jogo importante... Ela não se comove. Mas, claro, outros brasileiros e holandeses em trânsito como eu começam a se juntar na lanchonete, a pressão aumenta, a coisa fica feia... e ela finalmente cede e coloca no canal que está transmitindo o jogo. Assisti o último jogo do Brasil assim, em uma lanchonete de aeroporto, com alguns brasileiros, alguns holandeses e muitos estrageiros de vários países que se dividiram entre torcer para cada um dos times. O Brasil perdeu, mas tenho que confessar que foi o jogo em que mais torci, mais gritei, pulei, levante, me emocionei. E não é porque era mata-mata, oitavas de final. Foi pelo contexto mesmo. Estar ali em terra estrangeira, entre muitos estrangeiros (inclusive rivais holandeses) e alguns brasileiros desconhecidos, me fez torcer mais, muito mais, pelo Brasil. Estar entre estrangeiros me fez sentir mais brasileira. E torcer entre brasileiros desconhecidos me fez ver no futebol uma fonte de irmandade. O futebol ali nos irmanou e dividiu. Brasileiros de um lado, Holandeses de outro. Cada movimento em campo, era um movimento na torcida. Emocionante. Nunca vou esquecer esse jogo. O Brasil perdeu. Mas eu ganhei mais admiração pelo futebol. Um instrumento poderoso capaz de criar e fortalecer identidades (seja pela solidariedade, seja pela diferença). Já disseram que a identidade se constroi em confronto com o outro. É isso mesmo. A minha identidade brasileira no futebol, minha paixão pela camisa, desabrochou ali, entre Holandeses e tantos desconhecidos. A chegada em Hanoi foi surpreendente. Do alto, quando o avião se aproximava da cidade, algumas nuvens no céu e um arco-íris. Nunca tinha visto um arco-iris assim do alto. Sempre estava em terra, e olhava pra cima para poder ver o arco-iris. A visão foi realmente surpreendente. Da janela do avião, olhada pra baixo e via sobre a cidade de Hanoi um imenso arcó-íris. Reza a lenda que passar por debaixo de um arco-íris dá sorte. E passar por cima, é o que? Espero que seja sorte também. Seria ótimo uma dose de sorte durante a viagem. Esse foi apenas o primeiro capítulo dessa jornada. Em breve mando minhas impressões da cidade de Hanoi e do noroeste do Vietnã. A viagem começou com a péssima experiência da comida encaixotada, mas está valendo muito a pena.

4 comentários:

Anônimo disse...

Rê, também fiquei beeeeem desapontada com a "comida" no aeroporto Charles de Gaule.
Lojas e mais lojas e ... não tem comida comida! Só sanduíche gelado e umas saladas geladas e macarrão em caixa gelado. ECA!
E tudo CARO. Tipo o equivalente a 30 reais por um pão gelado com queijo velho e um suco mequetrefe. Um roubo!

O avião da AirFrance também não me agradou pelos mesmos motivos e um agravante: tenho muito medo de avião.

Beijos!!

Patricia disse...

Pessoas, vocês estão esquecendo que os franceses não comem!!
Aquele povo se alimenta de luz!!!
Paris não é a cidade da luz por acaso... Rsrsrs...

Beijos minha agente internacional! :)

Anônimo disse...

AAAAAAAAAA, bom!

Agora, sim!

Felipe disse...

Putz Re! Que legal...você no Vietnã. Deve ser muito doido e diferente né.

Conta mais desse pedacinho de mundo pra gente...Ah! Eu não sei da onde saiu esse imaginário (talvez dos filmes do Rambo) mas quando falo de Vietnã uma das primeiras imagens que me vem na cabeça é uma plantação de arroz com arco-iris!

Bacana mesmo... conta mais vai!
Beijos
Felipe