Três meninas. Três histórias diferentes que se encontram. Três linhas distintas de pensamento, que se unem formando um maravilhoso mosaico de histórias, ideias e experiências. Encontram-se nas afinidades e completam-se nas diferenças, enlaçando-se nas alegrias e tropeços da vida. Escrevem aqui para celebrar, compartilhar e aprender. Para refletir sobre as experiências do passado, as inquietudes do presente e as incertezas do futuro. Nessa sucessão de encontros e desencontros, buscam entender melhor o mundo. Tudo isso regado por um pouco de geografia, política, arte e muito ziriguidum!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Samba pulsa forte no Rio

Por Moacyr Luz 
Cantor, compositor e sambista

Rio - Amanhece dia 2, e nem é fevereiro, Dia de Iemanjá. Os versos de meio de ano ainda estão na garganta, a quadra lustra o cimento na cor da escola. No pagode improvisado, as mesas fazem trincheira, interditando a porta do bar. O cavaco arranhando a palheta dá o tom:

—Hoje é 2 de dezembro, Dia Nacional do Samba!

Agô, João da Baiana! ‘Bença’, Clementina! Salve, Monarco, Sargento e Zeca Pagodinho! Um bem imaterial, o samba pulsa forte no Rio de Janeiro.

O trem lotado abre na roleta o riso escancarado do passista anônimo. Ele vem desfilando desde a gare, interrompe o trânsito na Presidente Vargas e cadencia o hino deste enredo: “Samba, agoniza, mas não morre...”.

Um bandolim emprestado dos choros cariocas sola a melodia de ‘Feito de Oração’, o ritmo aumenta a caminho de Oswaldo Cruz quando a percussão repica o início de ‘A Batucada dos Nossos Tantãs’, e a comunhão está formada.

A data é pra comemorar, já é quase feriado, o mapa da cidade ganha forma de pandeiro, onde as platinelas refletem o alto das comunidades. Na verdade, o samba se ajeita cotidiano. Domingo tem Cacique de Ramos, tem Tia Doca. Segunda é Samba do Trabalhador. Na terça, Serginho Meriti e, quarta-feira, o cozido é o prato de resistência de uma roda no Recreio dos Bandeirantes.

Todo sábado tem feijoada na agremiação, a Velha Guarda entra com chapéu de aba curta, o repertório é nobre, clássicos que emocionam grisalhos e meninas com sandálias de dedo. Salve, Candeia! Sim, hoje é o Dia Nacional do Samba, samba que doeu nas costas de Donga, da Tia Ciata. Samba hoje coroado no Itamarati.

No abre-alas de Ismael, Cartola e Paulo da Portela, um surdo de marcação conduz a história desse sentimento. O alfabeto de Ary, Arlindo e Almir Guineto, segue Bide, Bezerra e Bira Presidente, avança com Cartola, Casquinha, Dona Ivone, Diogo, Elton Medeiros, Franco, Guilherme de Brito, até se curvar por Luiz Carlos da Vila, Leci, Marçal e Zuzuca.

É a força popular de medalha no peito.

Dia da Consciência Negra.

Dia Nacional do Samba: “Cabô, meu pai. Cabô!”.

3 comentários:

Anônimo disse...

Lindo, Rê!... lindo...

Henri disse...

Eitaaa!!! Arrepiei! =)))

Eu já fui nesse trem aí! E adorei! =))

Beijos

Patricia disse...

Ô coisa boa! :)
Acabei perdendo o trem desse ano e agora, nem amanhã de manhã, só ano que vem...
Mas o importante é que o samba do trem passou, mas o samba da vida, do dia a dia, da avenida, das quadras, terreiros, botequins e afins está ai!
O ANO INTEIRO!!!