Três meninas. Três histórias diferentes que se encontram. Três linhas distintas de pensamento, que se unem formando um maravilhoso mosaico de histórias, ideias e experiências. Encontram-se nas afinidades e completam-se nas diferenças, enlaçando-se nas alegrias e tropeços da vida. Escrevem aqui para celebrar, compartilhar e aprender. Para refletir sobre as experiências do passado, as inquietudes do presente e as incertezas do futuro. Nessa sucessão de encontros e desencontros, buscam entender melhor o mundo. Tudo isso regado por um pouco de geografia, política, arte e muito ziriguidum!

sábado, 24 de abril de 2010

UM FILME NECESSÁRIO

Foi essa a conclusão mais sintética a que chegamos (eu e Fidel, mais conhecido como meu marido, ha!) ao sairmos do cinema ontem à noite, após termos assistido "Utopia e Barbárie" de Sílvio Tendler. Digo"mais sintética", porque, é claro, podemos chegar à varias conclusões vendo esse filme. De todo, gostei e não gostei. Mas é conclusivamente necessário. O filme trata de uma época que não vivemos, mas a qual nos remetemos com frequência e (pretensa) familiaridade. Ele recorta o período que vai da(s) ditadura(s) e das transformações e efervescência social da(s) década(s) de 60 e 70 (maior parte do filme), à "nova ordem" do século XXI. O resgate dos depoimentos, as imagens, a coletânea de documentários é primorosa. Mas algo me incomodou. Acho que foi o posicionamento às vezes acrítico com que alguns períodos da história e alguns eventos foram tratados... Mas imediatamente pensei: EU vou criticar essa abordagem? Eu que não fui uma estudante rebelde de maio de 68 na França, eu que não pertenci ao MR8, eu que não fui perseguida e torturada? Eu? Provavelmente "as três meninas", nessa época, teriam sido presas, interrogadas, torturadas, quiçá estariam desaparecidas, como tantos jovens. Por isso tenho receio de fazer a crítica inócua, isto é, aquela crítica do "eu faria assim, assado", "eu teria dito/escolhido isso ou aquilo". Em outras palavras, e indo direto ao ponto, certas referências ao maoísmo, à Cuba de Fidel (especialmente e Cuba contemporânea), ao Vietnã, me incomodaram bastante pela falta de uma avaliação com distanciamento, pela falta de se chegar a uma conclusão básica a respeito, principalmente, das "experiências socialistas realmente existentes": O resultado disso tudo foi, também (assim como nos países capitalistas), catastrófico, no que diz respeito às pessoas, à sua liberdade individual e coletiva, às suas vidas. Mas, ao mesmo tempo, fiquei pensando... O mundo atual, o nosso mundo, que também é daqueles que viveram isso tudo que Silvio Tendler resgatou em seu documentário, que hoje têm 50, 60 e poucos anos, anda tão merda (desculpem a expressão, mas não há outra que a substitua), tão indiferente à tudo e à todos, tão desinteressado da política, do futuro (seja ele qual for: o planeta, a liberdade, as idéias, a saúde, os outros), que esse se torna um filme necessário. Para que não se esqueça. Para que não se apague. Para que sempre possamos lembrar o que é possível ser feito juntos. Ainda, e justamente, porque, essa palavra, "juntos" está muito fora de uso. Especialmente no que diz respeito à luta, à mudança... Nem mesmo as eleições, esse escárnio público, significam mais "juntos". Reparei que o cinema não tinha jovens espectadores. Quer dizer, o público era de adultos na faixa etária daqueles que viveram aquela história in loco, isto é, pessoas de 50 para cima. Uma pena que nossos contemporâneos, na faixa dos 20, 30 e poucos, não se interessem, se interessem pouco, ou desconheçam absolutamente esses fatos. Cabe aí a nossa divulgação de um filme necessário.

7 comentários:

Fidel disse...

É isso ae. :)

Apesar da minha Ilha ser foda mesmo!! E não aceito críticas, hein?!?!?!

Patricia disse...

Quero ver o filme. Apesar de achar que não vou curtir muito.
Sempre fico meio assim-assim com esses filmes que retratam frustrações de tempos perdidos.
Porque muitas vezes ficam com uma série de dados e fatos e falta uma crítica mais apurada ou uma reflexão futura...
Mas vou ver mesmo assim...

Anônimo disse...

Veja, sim!

Renata disse...

Tati,
desculpa só comentar agora... estou tendo uma semana UÓ... rsrsrs
Olha, gente, confesso, não sou muito fã do Silvio Tendler não... e depois da última polêmica com o lance do Cesar Benjamim, fiquei meio decepcionada.
Mas, quero ver o filme. Acho que, agora com seu relato, até me animo mais.
Ontem fui ver Sonhos Roubados, aquele baseado no livro "Meninas da Esquina". Sensacional. É um filme triste, duro, e que consegue ser sensível sem ser piegas e realista sem cair nos estereótipos.
Recomendo.
Beijo!

Anônimo disse...

Pois é!
Não é um filme ótimo. Mas é um filme importante. Acho que cumpre o seu papel.
O CW foi um dos roteiristas, você sabia? Ele tinha mandado um e-mail e depois eu vi o nome dele nos créditos do filme...

Quanto ao "Sonhos Roubados" está lá na nossa lista "anota na agenda"...
Também vi na semana passada e gostei bastante, mesmo. E pelos mesmos motivo. Sensível e triste, mas consegue extrair sorrisos justamente por ser a medida adequada da realidade...

Henri disse...

Tati,

Apesar de ter lido uma crítica boa sobre esse filme na Rolling Stone, li uma muito ruim na Folha, que não me empolgou muito a ir vê-lo. Seu comentário veio a calhar e agora até animei pra ir.

Ah, gente, só pra comentar, vou comemorar a edição de Sampa do Henri-sário em um videokê, na Liberdade. O presente obrigatório é que cada convidado tem de cantar uma música comigo. Vai ser muito bom pra colocar o lado brega, ou melhor, romântico/sentimental pra fora. ;) Ebaaaa!!!
Já que vou fazer uma edição em Brasília do Henri-sário e tenho uma amigona que comemora junto comigo e que está morando no Rio, estou pensando em fazer uma edição carioca também. Aviso vocês se eu for mesmo. =)
Pati, o evento bailinho de forró pode ser repetido na época? Se não, me contento com uma boa (e há tempos prometida) roda de samba. =)

Henri-beijo

Patricia disse...

Obaaaaaaaa!!!
Adorei a notícia!!!
O bailinho de forró ainda não saiu. Tive uma semana mega enrolada de trabalho e não agitei isso.
Mas podemos esperá-la...
Quando você vem?
E uma coisa não precisa excluir a outra!!! Vamos fazer o forró e vamos na roda de samba!!! Por que não?
paty beijo!! :)