Três meninas. Três histórias diferentes que se encontram. Três linhas distintas de pensamento, que se unem formando um maravilhoso mosaico de histórias, ideias e experiências. Encontram-se nas afinidades e completam-se nas diferenças, enlaçando-se nas alegrias e tropeços da vida. Escrevem aqui para celebrar, compartilhar e aprender. Para refletir sobre as experiências do passado, as inquietudes do presente e as incertezas do futuro. Nessa sucessão de encontros e desencontros, buscam entender melhor o mundo. Tudo isso regado por um pouco de geografia, política, arte e muito ziriguidum!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O levante de Soweto

Em 16 de Junho de 1976, milhares de estudantes negros marcharam desde suas escolas até o Estádio Orlando. Marcharam em protesto a ter que estudar em Afrikaans nas suas escolas.
Diversas medidas do Estado do Apartheid na África do Sul afetaram diretamente a educação de crianças e jovens negros, como o Ato da Educação Bantu (1953) e Ato da Educação de "Coloured People" - que inclui não apenas os negros mas todos os não brancos, não europeus - (1963). Essas medidas baniram os estudantes não brancos das escolas, forçando-os a estudar em escolas especificamente construídas para eles, onde o nível da educação era muito pior e o conteúdo passado muito limitado.
Já falei sobre isso em um post anterior, As placas do apartheid. O objetivo desses atos era educar os negros para serem mão de obra, trabalhadores para os brancos. Por isso a educação poderia ser bastante limitada, era apenas para formar uma mão de obra de trabalho braçal.
Mas um decreto de 1974, o Ato Afrikaans Medio, definiu o idioma em que as disciplinas seriam lecionadas nas escolas para não brancos. Matemática, aritmética e estudos sociais seriam ensinados em Afrikaans. Inglês seria o idioma de ensino de ciências e de disciplinas práticas (costura, marcenaria, artes, agricultura). E as línguas nativas seriam usadas para ensino de música e religião apenas.
O objetivo do decreto era reverter o declínio do idioma do Apartheid. Estudos indicavam que 98% dos não brancos não queriam aprender Afrikaans, e o inglês estava se tornando o idioma mais usado no comércio, na indústria e nas ruas. O decreto enfrentou forte oposição, pois impunha a "língua do opressor", como Desmond Tutu se referie na época ao Afrikaans.
A oposição e a resistência cresceram até que, em Abril de 1976, os alunos da Orlando West Junior School entraram em greve, se recusando a ir às aulas. A revolta então se disseminou para outras escolas e os estudantes formaram um comitê de ação que organizou uma grande passeata no dia 16 de Junho. Uma as bandeiras era "se nós temos que aprender Afrikaans, vocês tem que aprender Zulu".
A ação foi planejada com o apoio do Movimento de Consciência Negra como um protesto pacífico. No entanto, a polícia montou barricadas e bloqueios no caminho dos estudantes. A liderença do protesto pediu que os estudantes não confrontassem a polícia e seguissem por outro caminho, e assim fizeram. Apesar disso, o protesto terminou em caos e mortes, depois que o Coronel Kleingeld deu o primeiro tiro. 23 pessoas morreram naquele dia em Soweto. Depois do masacre do dia 16, a hostilidade aumentou entre os estudantes negros e a polícia, que retornou a Soweto no dia seguinte com 1.500 homens fortemente armados.
Dos confrontos subsequentes, resultram mais de 500 mortos.
Hoje lembramos o dia de luta, homenageamos aqueles que morreram na luta, e dizemos que a luta continua, sempre.
Imagem de abertura do post: Mbuyisa Makhubu com o corpo do menino Hector Pieterson nos braços, em 16 de Junho durante o conflito em Soweto. Foto do foto jornalista Sam Nzima.

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