Três meninas. Três histórias diferentes que se encontram. Três linhas distintas de pensamento, que se unem formando um maravilhoso mosaico de histórias, ideias e experiências. Encontram-se nas afinidades e completam-se nas diferenças, enlaçando-se nas alegrias e tropeços da vida. Escrevem aqui para celebrar, compartilhar e aprender. Para refletir sobre as experiências do passado, as inquietudes do presente e as incertezas do futuro. Nessa sucessão de encontros e desencontros, buscam entender melhor o mundo. Tudo isso regado por um pouco de geografia, política, arte e muito ziriguidum!

sábado, 9 de julho de 2011

ENTRE O FUZIL E O CANTAR


“Eu sou de um povo nascido entre o fuzil e o cantar, e que de tanto ter sofrido tem muito que ensinar”.
Esses versos foram escritos pelo cantor e compositor Nicaraguense Luís Enrique Mejía Godoy. Ele e seu irmão Carlos são compositores adorados no país. Suas canções falam muito da Revolução Sandinista, da guerra, da opressão e, principalmente, da libertação.
Uma reflexão que tenho feito durante esta minha estadia aqui na Nicarágua é: o que nos move no mundo? A que afinal dedicamos nossas vidas?
Durante o trabalho aqui, participei de um exercício muito interessante junto com outros participantes da Guatemala e da Nicarágua. Era uma linha do tempo em que cada pessoa deveria escrever um acontecimento marcante em sua vida pessoal. Algumas pessoas de fato colocaram acontecimentos de suas vidas pessoais, como o nascimento do filho ou mudança de cidade. Mas o que me chamou a atenção foi que a maior parte das pessoas citou acontecimentos relacionados com a seu trabalho, sua luta política, ou a luta de sua comunidade e seu país.
Mencionaram a própria revolução sandinista, o trabalho nas escolas de reconciliação, o apoio ao primeiro retorno dos refugiados, o primeiro trabalho na área rural com camponeses, o trabalho com grupos feministas, a participação nos conselhos comunitários de desenvolvimento, e outras coisas desse tipo. Fiquei pensando por que elas teriam mencionado isso, e se não teriam entendido o que era exatamente o exercício. Mas não foi o caso. Todos entenderam o exercício. O fato é que tudo isso é, no fundo, muito pessoal para algumas pessoas. A luta política, os direitos de suas comunidades indígenas, o retorno dos refugiados, a emancipação das mulheres, a fome dos agricultores, tudo isso é muito pessoal.
Lutar por direitos, por liberdade, por uma vida melhor não apenas para sua família, mas para o coletivo a sua volta, não é um trabalho comum com jornada de 8 horas por dia. É trabalho em tempo integral, é uma opção de vida e, portanto, muito pessoal. É a doação do tempo que não se passa com a sua família, é o lazer que não se tem, é o risco que se corre, é a dedicação integral pela crença em um mundo melhor, o mundo que querem construir.
Ver como, em algumas vidas, a trajetória pessoal está totalmente marcada pelas lutas sociais e políticas me fez pensar muito sobre a que, afinal, dedicamos nossas vidas e o que é realmente importante para nós. O que nos faz levantar todos os dias de manhã, em que colocamos nossas energias? O mundo em que vivemos ainda é marcado pela desigualdade, a violência e a opressão. É um mundo onde 1 bilhão de pessoas passam fome. Acho que essa realidade exige que nos dediquemos à construção de um mundo melhor, mais justo e igualitário.
Será que estamos todos fazendo a nossa parte? A que afinal realmente dedicamos nossas vidas?
Texto: Renata Neder - Publicado no site da Revista Época

3 comentários:

Tati disse...

Tenho tanto a aprender... ai, ai...

Lili disse...

Perfeita reflexão, principalmente nos dias de hoje, onde vemos uma juventude tão pouco preocupada, que dirá engajada em movimentos ou causas sociais e políticas. Tão preocupada com jogos eletrônicos, tecnologias de ponta em seus celulares e computadores, redes de relacionamento para postar bobagens vazias... Um bilhão passando fome. Quem se lembra disso? E pensar que no passado, aqui mesmo, tantos perderam suas vidas por um ideal maior de liberdade...

Patricia disse...

Ai Lili... Nem fala...