Três meninas. Três histórias diferentes que se encontram. Três linhas distintas de pensamento, que se unem formando um maravilhoso mosaico de histórias, ideias e experiências. Encontram-se nas afinidades e completam-se nas diferenças, enlaçando-se nas alegrias e tropeços da vida. Escrevem aqui para celebrar, compartilhar e aprender. Para refletir sobre as experiências do passado, as inquietudes do presente e as incertezas do futuro. Nessa sucessão de encontros e desencontros, buscam entender melhor o mundo. Tudo isso regado por um pouco de geografia, política, arte e muito ziriguidum!

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

As Olimpíadas e um dos maiores desastres da história


Dois de dezembro de 1984 – mais de 40 toneladas de gás letal vazaram da fábrica de pesticida da Union Carbide em Bhopal, Índia. Este foi um dos maiores desastres industriais da história, e ainda está vivo na memória de muita gente.

“A partir do dia em que o gás vazou, começaram os problemas. Eu comecei a perder minha visão. Os pulmões do meu marido foram gravemente afetados. A minha filha, que nasceu 16 anos depois da tragédia, nasceu com deficiências devido ao gás.”

Esse relato de uma moradora de Bhopal não é uma fala isolada, representa uma queixa coletiva que se arrasta por quase 30 anos. Entre 7 e 10 mil pessoas perderam suas vidas enquanto o gás se espalhava pelos arredores da fábrica. No total, 20 mil pessoas morreram como resultado do vazamento e outras 100 mil sofreram danos permanentes. A fábrica hoje está fechada, mas as instalações continuam poluindo e envenenando o solo, o ar e a água do entorno.

Em frente ao local onde funcionava a fábrica, uma mulher conta: “As crianças ainda vem brincar aqui. As pessoas em casa bebem a água deste solo. Crianças sofrem com deficiências, doenças de pele, e tem problemas de crescimento”.
Já se passaram 28 anos e os moradores de Bhopal ainda sofrem os impactos desse vazamento. São acometidos por diversas doenças e até hoje lutam pela limpeza da área e por uma indenização justa.

E o que tudo isso, afinal, tem a ver com as Olimpíadas? Eu explico.

Em 2001, a empresa Dow Chemical comprou a Union Carbide. Em 2010, a Dow ganhou o status de “parceiro olímpico oficial”, status concedido pelo Comitê Olímpico Internacional. A população afetada pelo vazamento de gás em Bhopal vê neste apoio aos Jogos Olímpicos uma tentativa cínica da empresa de limpar sua imagem e se isentar de responsabilidade.

“A Dow está tentando limpar sua imagem apoiando as Olimpíadas, através do poder do dinheiro. Mas não quer se responsabilizar por Bhopal. A nossa mensagem é que antes a Dow deveria se responsabilizar por Bhopal, e só depois pensar em apoiar as Olimpíadas”, demanda uma moradora da região.

Até hoje, a Dow ainda não limpou a região de Bhopal nem compensou adequadamente seus moradores. A empresa nunca abordou os impactos da catástrofe para os direitos humanos e permanentemente nega a responsabilidade da Union Carbide sobre o ocorrido. Isso parece uma atitude responsável de uma empresa? Mostra algum respeito e compromisso com os direitos humanos? Não, né?

Em Londres, houve muitos protestos contra essa parceria. As manifestações acabaram levantando questões importantes sobre grandes empresas e violações de direitos humanos e os limites que devem existir na relação entre eventos esportivos e culturais e seus patrocinadores. Agora que o Rio de Janeiro se tornou oficialmente a cidade olímpica, a bola está com a gente. O que queremos para o Rio 2016? Eu acho que as Olimpíadas não podem ser usadas para limpar a imagem de quem viola direitos humanos, legitimando tais violações e a falta de responsabilidade das empresas.

E vocês, o que acham? Será que não é hora de começar um amplo debate com os patrocinadores e parceiros das Olimpíadas no Rio?

Texto originalmente publicado no Blog Mulher 7 por 7 no site da Revista Época, e pode ser lido aqui

Um comentário:

Patricia disse...

Na realidade minha flor eu nem queria as Olimpíadas por aqui e agora que seremos sede mesmo, não acredito que questões como essas serão levadas em consideração. Os direitos humanos já estão sendo violados na nossa cidade antes mesmo do evento começar e infelizmente sinto-me impotente perante os fatos. É muita grana!! São muitos interesses em jogo... Acho que não só os debates são válidos, mas ações efetivas deveriam ser tomadas contra as barbaridades que estão por vir. A questão é como? Como agir? Sinceramente eu não sei... :(